sexta-feira, 15 de abril de 2011

Da dissertação ao livro


Texto originalmente publicado no site da Faculdade Cásper Líbero

por Rafael Lourenço, Guto Lobato e Luis Mauro Sá Martino

http://www.casperlibero.edu.br/noticias/index.php/1969/12/31/da-dissertacao-ao-livro,n=5158.html


Gabriel Lage defendeu sua dissertação de Mestrado na Cásper Líbero em 2010. Quatro meses de trabalho depois, o texto se transformou em um livro, “Mito e comunicação: a importância da mitologia e sua presença na mídia”, publicado pela editora Plêiade e com lançamento previsto para maio deste ano.

Lage é formado em Letras pela Universidade da Amazônia, no Pará, e especialista em Gestão da Comunicação pela USP. Sua dissertação foi um estudo do programa infantil “Catalendas”, que resgata mitos e saberes populares da região norte.

Nesta entrevista, o autor fala do processo de escrita do livro e de seu trabalho com os mitos – para Lage, além de assunto sério, a mitologia “é essencial para a compreensão de nossa vida”.

Para quem está começando o mestrado ter a dissertação publicada é um objetivo distante. Como foi esse processo para você?

Quando entrei na Cásper percebi que havia feito a escolha certa, pois o tema de narrativas míticas, compreensão e oralidade está diretamente ligado a uma das disciplinas lecionadas pelo meu orientador, professor Dimas Künsch. Durante uma reunião de orientação, já na fase final, ele sugeriu que o trabalho poderia virar livro, mas só voltamos a falar no assunto após a defesa.

Contando o trabalho de revisão, feito por Renata Barranco e Guilherme Saltini, editoração, inserção de textos novos, como o das orelhas, escrito pelo professor Dimas, e o prefácio, escrito pelos professores José Eugênio Menezes e Mônica Martinez, a adaptação levou cerca de quatro meses.

Sua pesquisa defende que “mito é assunto sério”. Como você explica a importância dos mitos, e o que o levou a realizar este projeto?

Eu costumava ver as narrativas míticas apenas como histórias de grande valor cultural. Através da leitura de estudiosos como Joseph Campbell, Mircea Eliade e Karen Armstrong, entendi que a mitologia é essencial para a compreensão da nossa vida e do mundo em que vivemos. Campbell diz que todas as narrativas míticas são pistas. Se soubermos interpretá-las, veremos que estão aí para nos auxiliar e servir de exemplo durante a nossa própria jornada. Escolhi este tema para tentar atrair a atenção para essas riquíssimas histórias.

Na sua dissertação você analisou um programa de TV, o Catalendas. Qual a relação dele com essas premissas?

O Catalendas apresenta às crianças histórias que dificilmente seriam contadas pela programação infantil dominante, usando padrões que incitam o interesse e facilitam a compreensão. Os telespectadores percebem que a vida não precisa ser tão complicada e que a mesma coisa que apavora pode ser vista de outra maneira se for compreendida devidamente.

É possível afirmar que “compreender as diferenças” é um papel da mitologia na televisão? Você acredita que isso poderia diminuir alguns preconceitos?

Acredito que se houvesse maior conhecimento sobre a cultura de todas as regiões do país, o preconceito seria menor. Se uma diversidade de expressões culturais tivesse maior espaço na mídia, esse papel de fazer compreender as diferenças, que também é da mitologia, seria bem desempenhado. O programa Catalendas mostra isso.

Você afirma que costuma ser pequeno o conhecimento dos brasileiros sobre as expressões culturais do país. Podemos esperar que outros programas educativos surjam na TV aberta para cumprir esse papel?

Por mais difícil que seja é possível ter esperança sim. O próprio Catalendas voltará a ser produzido este ano e há ainda o “Cocoricó” também da TV Cultura, que tem todo um perfil educacional. O grande desafio é a disputa com os diversos programas infantis que têm como finalidade a promoção de produtos.

Por conta de um certo encantamento tecnológico, há quem considere os meios digitais como expressões da modernidade e as formas tradicionais de relato como arcaicas. O que há de intrigante na oralidade quem a mantém como elemento fundador de culturas até hoje?

Tudo começa na oralidade. No livro falo que todos nós somos contadores de histórias em potencial. Até a pessoa mais calada, indagada sobre um assunto de seu interesse, fala por horas. A oralidade é o meio de comunicação mais simples que existe, está presente no rádio, na TV, e até na Internet.

Em geral, quem termina uma fase na vida acadêmica se programa para uma próxima. Quais são os próximos planos?

Pretendo seguir na vida acadêmica. Quero ingressar no doutorado ainda em 2011, e continuar no grupo de pesquisa Comunicação, Jornalismo e Epistemologia da Compreensão. Profissionalmente, tenho a intenção de atuar como docente e, quem sabe, escrever outros livros.

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