terça-feira, 16 de novembro de 2010

A Internet como voz democrática que serve à voz preconceituosa


INTOLERÂNCIA
A voz preconceituosa na web
Por Rafael Lourenço em 16/11/2010
em Observatório da Imprensa


No final da década de 1950, em um texto chamado "Classroom without walls", Marshall McLuhan, um dos nomes mais conhecidos da comunicação, previu que, "no futuro, uma rede mundial de computadores deixará qualquer informação disponível para os estudantes". A previsão, que rendeu acusações de delírio ao teórico canadense, já se faz realidade e torna a rede um portal quase mágico a uma quantidade inesgotável de conhecimentos que todos os alunos têm (ou deveriam ter) à disposição.

A internet, enquanto ferramenta de comunicação e informação, é, sem dúvida, uma das maiores revoluções tecnológicas da história da humanidade. Facilitou pesquisas, criou o que alguns chamam de "São Google", possibilitou trocas de informações instantâneas, entretenimento e, principalmente, criou uma alternativa ao modelo onde "poucos emissores falavam para muitos receptores".

Essa nova possibilidade de se tornar um emissor sem necessariamente ser um jornalista e atuar em um veículo de comunicação, possibilitou à internet, por meio das redes sociais, ser uma boa opção de voz democrática. Ao contrário da grande imprensa, onde constantemente há acusações de não haver espaço para outras vozes que não a dominante dos grandes (e poucos) conglomerados de mídia, na internet, independentemente da opção partidária, formação intelectual ou preferências sociais, qualquer pessoa alfabetizada e com acesso à rede (hoje largamente facilitado pela proliferação das lan houses), pode, por meio das redes sociais, falar e encontrar eco de outros que concordem ou discordem de suas posições.

A voz preconceituosa

No entanto, esse fato, essencialmente positivo para a consolidação de um processo democrático de comunicação (pelo menos na rede), possibilita também ouvirmos o grito de vozes altamente preconceituosas, em situações que (por favor, peço que ponderem o uso do termo) chegam a lembrar discursos fascistas de discriminação racial, social ou étnico.

Além da grande propagação de boatos – motivo central da crítica que o filósofo francês Dominique Wolton faz à internet –, vista principalmente durante o período eleitoral de 2010, após a vitória da candidata Dilma Rousseff, houve um genocídio intelectual contra os nordestinos.

Refiro-me a situações absurdas de preconceito e estupidez gritadas por pessoas que se julgam ser a elite educada do país e acusam os nordestinos de coisas que nem valem a pena citar neste texto. Sobre essa voz preconceituosa, que não foi criada, mas sim, reverberada pela internet, devemos refletir o quanto é possível a pessoas, muitas vezes com bom nível de instrução escolar, usar o meio para propagar o ódio a determinados grupos de pessoas.

Para o bem ou para o mal

Além disso, vale ressaltar o perigo das falsas deduções e dos cuidados que temos que ter em concluir. Toda essa gritaria preconceituosa que vimos na rede partiu, além, claro, de ideais já compartilhados, da interpretação de um dado recebido de forma bruta: "Dilma ganhou as eleições e onde somou maior diferença foi no Nordeste, região que abriga alguns dos estados menos favorecidos da nação". O que poucos dos "revoltados" se preocuparam em verificar – não que isso justifique a revolta – é que o Nordeste não decidiu a eleição, apenas ajudou a aumentar a diferença.

No Brasil, mais do que em qualquer outro lugar, preconceito é atestado de burrice. Somos um povo misturado. Afinal, quem é o brasileiro puro? Ou quem é o mais ignorante, se alguns "instruídos" pelas universidades se mostram ignorantes no respeito às diferenças e na análise e interpretação de dados?

Nascido e criado na região Sudeste, devo dizer que tenho vergonha da fama de preconceituosos e ignorantes que alguns poucos (pois tenho certeza que se trata de uma minoria) estão espalhando sobre nós nas redes sociais. Dessa vez, a internet mostrou seu lado negativo. Por sorte, podemos usar desse mesmo recurso para refletir e mostrar nossas opiniões contra qualquer tipo de preconceito burro.

Como toda inovação, a internet pode ser usada para o bem ou para o mal. O perigo, neste caso, é que não é possível evitar que ela "caia em mãos erradas", pois a ferramenta está acessível, de uma forma ou de outra, a quase todos.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Dominique Wolton na Cásper. Informar é Comunicar?


Informar, significa, necessariamente comunicar? Com uma resposta negativa a essa pergunta, o sociólogo francês Dominique Wolton iniciou, na tarde da terça-feira, dia 26 de outubro, na Cásper, o seminário “Imagem e Informação”, promovido pelo Grupo de Pesquisa Comunicação e Cultura Visual, do Mestrado da Faculdade Cásper Líbero.

Durante sua palestra, Wolton apresentou aos presentes algumas de suas posições sobre a disjunção entre Informar e Comunicar, seu ponto de vista positivo a respeito dos veículos de comunicação de massa e negativos em relação a Internet.

Negociação e respeito às diversidades culturais foram alguns dos argumentos de Wolton para a efetividade do processo comunicacional. Para o sociólogo, o ato apenas de informar, não é suficiente gerador de comunicação. Disso depende, além das condições do receptor, uma constante relação em dois sentidos: negociação e coabitação. “Há liberdade de comunicação. Você pode dizer o que quiser mas o outro pode aceitar ou não a sua fala. Por isso, conseguir atenção é um constante ato de negociação, não basta apenas lançar a informação”.

Questionado sobre a responsabilidade dos jornalistas no processo de transformar informação em comunicação, Wolton afirmou que devem parar de apenas produzir informações e levar em conta o entendimento e as condições do receptor, sejam sociais, geográficas ou culturais.

Com posições um pouco diferenciadas em relação aos veículos de massa e a Internet, Wolton, em defesa aos “mass media” alegou que o receptor é “menos bobo do que se pensa” e não é manipulado e alienado pelos meios como muitos dizem. Por outro lado, a Internet, com um “sem número” de emissores possíveis, lança conteúdos por vezes grosseiros na rede sem nenhuma (ou pouca) possibilidade de fiscalização. “É fácil produzir e distribuir informação para a Internet. Mas para comunicar não basta essa rapidez, precisa tempo, negociação e coabitação”.

Wolton encerrou sua palestra citando o Brasil como um país onde, apesar de existirem problemas sérios de preconceito, há coabitação como em poucos outros lugares e afirmou sermos privilegiados pois sabemos conviver em paz. Ao encerrar, pediu, “Tentem manter essa coabitação, ela é rara em outros países”.
Original em: http://t.co/9xPtnP4

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A divisão apocalíptica entre o bem e o mal e o poder questionável da grande mídia



Nesses tempos de eleição, e principalmente nos tempos da bipolaridade partidária brasileira entre PT e PSDB, a construção de algo que seria o “bem total” contra outro algo representando o “mal total” se faz clara em qualquer discussão um pouco mais acirrada sobre política. A bem da verdade, vemos hoje claramente essa distinção ser feita pela grande mídia. Os veículos de maior circulação – O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e Veja, defendem, declaradamente ou implicitamente o partido (teoricamente) mais conservador, representado hoje por José Serra. Do outro lado, veículos de menor circulação, como Carta Capital e Caros Amigos, apóiam Dilma e a continuidade do governo PT.

Movidos, seja por interesses ideológicos sejam econômicos, ambos os lados, não sempre, mas em muitos casos, pintam o cenário apocalíptico a qual me refiro, onde a eleição, na verdade, é uma guerra entre o bem e o mal. A impressão que fica é que, quem vencer irá implantar uma ditadura e terá poderes absolutos de implantar suas vontades – as mais obscuras possíveis como os “boatos” têm espalhado por ai, tais como liberar aborto, drogas, armas, homossexualismo, fechar igrejas, proibir símbolos religiosos, privatizar até o “Corcovado” e por aí vai.
Independentemente do gosto partidário, fico pensando, será que as coisas são assim tão simples como o cenário mostra? Será que, a essa altura, um debate maniqueísta é o mais adequado (até nos meios acadêmicos)?
Sobre isso, abro algumas questões para serem pensadas - criticadas ou apoiadas até por que são questões contraditórias, apenas alguns parâmetros:

1 - A mídia impressa ser altamente partidária, chega a ser normal, faz parte do jogo, basta vermos a história da imprensa e entendermos que os jornais e revistas são empresas privadas e independentes. O problema é oferecerem a pluralidade em seus slogans e venderem na realidade panfletos. Ao saírem de cima do muro e assumirem declaradamente suas posições – caso do Estadão e da Carta Capital - não estão sendo desonestos, apenas partidários – e cumprindo o que afirmam.
2 – Por outro lado, a imprensa, em sua essência deveria refletir a opinião pública. O jornalismo ideal – se é que se pode pensar em um jornalismo ideal – seria, antes de qualquer coisa, um serviço de utilidade pública, cliente da população e não das empresas privadas. Vendo por esse lado, qual a normalidade em um país onde o governo tem 86% de aprovação ser posto na imprensa, muitas vezes, como algo negativo? E a opinião pública dos 86%, não conta? Não importa mais refletir a opinião pública? Ou se trata agora simplesmente de tentar moldar a opinião pública aos interesses privados?
3 – E quanto aos meios de radiodifusão? Esses sim, apesar de empresas privadas, são concessões públicas. Dependem do Estado para funcionar, tanto no que se diz respeito a autorização legal, quanto estrutural de transmissão nacional. Não deveriam esses, pelo menos, cumprir a legislação (que diz que esses meios deve(ria)m atender a prioridades de programas educacionais e culturais) e servir de meios de educação e informação para a população e não aos interesses privados?
4 – Longe de querer negar o poder da grande imprensa, gostaria apenas de lembrar que, até o momento, apesar da grande mídia apoiar os candidatos do PSDB, estamos caminhando (ao que tudo indica) para o terceiro mandato do PT. Agora fica a pergunta: A imprensa tem realmente esse poder todo? Por que não consegue eleger seu candidato? Ou será que consegue?

Além da comodidade de dar a grande imprensa um poder descomunal e culpá-la por tudo (coisa que em alguns momentos da história foram possíveis, mas não sempre), é importante ressaltar que ainda temos diversas outras fontes de influências e mediações, como família, amigos, igrejas, partidos, dentre outros, que também influenciam a população e a ajuda a seguir alguns princípios, por vezes diferentes dos propostos pela imprensa.
Mas é claro que deveríamos pensar na necessidade de ensinar nas escolas, formas de receber criticamente esses meios de comunicação, para que as informações que recebemos, muitas vezes desencontradas, sejam recebidas de forma critica e proveitosa. Concluo esse artigo, defendendo que o caminho para esse debate é a educação, a única forma de alcançar o esclarecimento, se é que alguns governantes têm interesse nesse tal “esclarecimento” da população. Enquanto isso, seguem os debates maniqueístas entre o bem e o mal.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A mercantilização dos valores educacionais e o caso “Neymar Futebol Clube”


Foi-se o tempo em que os educadores tinham o pleno direito de exercer sua função primeira: a de educar pura e simplesmente. Foi-se o tempo em que o respeito ao mestre ocorria pela experiência e maior conhecimento daquele que ensina, seja um professor ou um treinador esportivo, e não pelo preço. A partir do momento em que tudo vira mercadoria e que, a regra é o lucro a qualquer custo, parece que nada mais é necessário além de parecer ser a “decisão mais cabida pensando no bem patrimonial da empresa”.
A verdade de que “manda mais quem pode mais” e, nesse caso, poder mais é “custar mais”, o dinheiro fica acima do que se poderia julgar normal e ético e coisas estranhas começam a acontecer. O professor (da rede privada) começa a ter que medir as palavras com os alunos, que se julgam no direito de fazer o que quiserem, pois a própria televisão os ensinam que a lógica dessa geração é a do “estou pagando”. Aprendem rapidamente que o valor que eles têm na sociedade é o valor que seus pais pagam de mensalidade e que professores desempregados têm aos montes por aí para substituir aqueles que foram ‘queimados’ por eles. “Melhor perder o professor do que as mensalidades”, pensam alguns donos de instituições de “educação (?)” privada no país. Na rede pública, apesar de não haver a questão da mensalidade, há os bônus pagos pelo governo para as escolas que tiverem bons resultados e ausência de alunos reprovados ou de recuperação. Certa vez, ao participar de uma reunião escolar de uma escola pública, ouvi uma certa professora dizer para uma aluna (do ensino fundamental), acompanhada da mãe, a seguinte e bizarra afirmação: “Você não será reprovada este ano, fique tranqüila, não iremos permitir. É bem verdade que você merece, mas não podemos perder o bônus que o governo nos paga no fim do ano”. Perdeu-se o respeito. Logo cedo a criança aprende que quando se trata de lucrar, dá-se um jeitinho, o famoso e cancerígeno 'jeitinho brasileiro'.
O que está acontecendo no futebol, símbolo maior de identificação nacional, segue a mesma lógica, porém, com proporção consideravelmente maior, claro. Perdeu-se por completo o respeito. Quem procura ‘educar’ determinados comportamentos recebe como prêmio a demissão. O caso Neymar – Dorival Jr, que está repercutindo por esses dias, é um exemplo claro dessa lógica, mas não é o primeiro e está longe de ser o último exemplo. “Estamos criando um monstro”, disse o treinador René Simões após o jogo entre Santos e Atlético GO, onde o jogador Neymar xingou, sem o menor pudor, o técnico e o capitão do seu time. O técnico bancou a punição do jogador e exigiu gancho por tempo indeterminado para o atleta. Após apenas um jogo de gancho, porém, o Santos exigiu a reintegração do jogador ao time, contrariando a decisão de Dorival Jr e resolveu mandar o treinador embora para poder escalar o jogador sem problemas. Imagino que o monstro que René Simões disse que estava sendo criado acaba de ganhar respaldo após essa decisão, pela lógica simples do “sou o mais caro aqui, logo, estou acima até dos meus superiores”.
Alguns meses antes, em maio de 2010, o treinador António Carlos Zago, também ganhou de presente sua demissão, quando dirigia o Palmeiras, após repreender e afastar um grupo de jogadores que haviam descumprido o horário combinado. Imagine em uma empresa o funcionário ser repreendido por não cumprir o horário estabelecido, reclamar e conseguir a cabeça do chefe. Inimaginável, não? Nem tanto, afinal, isso depende do lucro gerado pelo funcionário e não mais de valores morais.
Jogadores de futebol do porte de Neymar e, para realizar a analogia proposta por este artigo, alunos da rede privada, são mercadorias necessárias para a roda do sistema capitalista que estamos alimentando. Enquanto produtos, são intocáveis pois estão dando altos lucros para seus proprietários momentâneos. A bem dessa verdade, o capital social conquistado não é o intelectual mais, apenas o do preço, o do “quanto custa”. No mundo capitalista onde reina essa lógica respaldada pelos meios de comunicação de massa, que premiam o comportamento desses produtos midiáticos, saem de cena os valores morais e entram os valores monetários. Fica de fora a importância e a individualidade humana para dar lugar ao acúmulo de imagens fantásticas da sociedade espetacularizada em que vivemos.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Vincere: o cinema europeu e as vantagens de morar em uma grande cidade



Recentemente escrevi neste blog sobre a minha insatisfação com os filmes do circuito convencional (comercial). Uma verdadeira mostra do auge da ‘sociedade do espetáculo’: muito barulho para nenhuma arte, característica que para mim transforma os produtos exibidos nos shoppings em algo mais próximo de propaganda (de sonhos de consumo, lugares, personagens, produtos licenciados) do que da sétima arte. É claro que esse não é o problema de 100% do circuito comercial, mas infelizmente o número está próximo da totalidade.

Mas nem tudo é espetáculo no sentido pejorativo. E é ai que começam as vantagens de morar em uma grande cidade como São Paulo, onde há um circuito alternativo de cinema que nos faz lembrar que a sétima arte está viva e produzindo obras de arte de altíssima qualidade.

É claro que morar em uma metrópole tem seu preço e esse preço às vezes é bem alto. Não caber no metrô (quase que independente do horário), encarar filas enormes para praticamente qualquer coisa (do sorvete ao carregamento do bilhete único), encarar trânsitos astronômicos e respirar um dos piores ares do mundo... mas enfim, ao sofrer diariamente com esse tipo de situação tento ver as coisas boas antes que a cidade me enlouqueça por completo..

E o circuito de cinema alternativo é uma dessas vantagens que nos faz dar valor para a cidade. Após passar diversas vezes em frente ao cinema da Reserva Cultura, que fica no mesmo prédio da Cásper (estar lá está me transformando e isso mereceria um texto a parte), resolvi entrar ontem para ver um filme recomendado por um professor do mestrado. Trata-se de um filme italiano, de 2009, chamado “Vincere” (Vencer).

O longa, ao contrário de fazer barulho para vender, mostra o barulho feito pelo ditador italiano Benito Mussolini para se transformar no líder fascista da nação por meio do cinema e da panfletagem para construir o personagem heróico do “Il Duce”.

O enrredo, porém, é focado marginalmente no drama de Ida Dalser, amante de Mussolini que, achando ser a única mulher de Benito, vende tudo que tem para financiar a panfletagem que colocaria Mussolini sob os holofotes - é e negada pelo ditador logo em seguida a sua chegada ao poder.

O drama que mostra um evento histórico da Itália, ilustra um discurso político facilmente adaptável para realidades inclusive atuais e mostra o poder do cinema e do rádio no começo do século XX enquanto veículos de massa - cenário que serviu de ‘berço’ teórico para os pensadores da escola de Frankfurt.

Bom, fica a dica. Em São Paulo o filme está em cartaz no Reserva Cultural: http://www.reservacultural.com.br/detalhe_filme.asp?id=4&filme=10

e no Cine Sesc:

O filme está em cartaz também no Rio de Janeiro, Salvador e em Recife conforme dica do site: http://www.omelete.com.br/cinemas/programacao/?programacao=vincere

Veja o trailer:
http://www.youtube.com/watch?v=ldYi82S__kY

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O papel das "celebridades" na campanha eleitoral



Originalmente em Observatório da Imprensa


A representação e a função dos “famosos midiáticos” nas campanhas eleitorais, é um velho problema, já longamente discutido, porém pouco conhecido pelos eleitores em geral. Quando votamos em candidatos do poder legislativo (deputados federais, estaduais, senadores e vereadores), apesar de votarmos individualmente em um candidato e não no partido, temos que ter em vista que a eleição é proporcional e que os votos recebidos pelas celebridades (que na maioria das vezes sequer sabem o que faz um deputado por exemplo) são somados e revertem-se para os partidos, que elegem determinado número de candidatos (independente de quantos votos receberam), na proporção dos votos obtidos pelos candidatos populares.

Em 2006, ano da última eleição presidencial escrevi um pequeno texto sobre esse assunto e, ao ver o humorista Tiririca e principalmente a entrevista dada por ele a Folha de SP, corri meus arquivos em busca desse texto e o encontrei! (Segue abaixo). O Tiririca, representa como poucos a figura da celebridade que levanta votos para o partido em questão. Confirmação dessa lógica fica explícita quando Tiririca declarou, em entrevista a FSP, que sua campanha será toda patrocinada pelo partido que o convidou e o rodeou de assessores. Ao votar em candidatos como o Tiririca (que muito provavelmente terá uma votação alta), o problema maior não será ver o “abestado” (forma como o próprio Tiririca se intitula em sua propaganda) no congresso, mas sim imaginar que tipo e quais intenções possuem os outros candidatos que irão ao congresso bancados pela grande votação do humorista. Não é muito difícil imaginar o tipo de político que usa dessa artimanha para chegar ao congresso.

Texto de 2006 escrito com algum (?) fim acadêmico

Reforma Política, um direito do cidadão

“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos”.
Artigo 1º. , Parágrafo Único da Constituição Federal.


Será que algum dos quase 740 mil eleitores do deputado federal eleito Paulo Maluf sabem quem é Marcelo Mariano e Neudo Gomes? E quanto aos 494 mil que elegeram o deputado Clodovil Hernandez pelo PTC? Algum deles conhece a deputada Ângela Portela?
Entre os três nomes desconhecidos citados acima, o laço que os liga é o mesmo. Todos chegaram ao congresso nacional com uma média de menos de 10 mil votos (segundo dados do TSE), carregados pelos astros que os ‘apadrinharam’.

Só para se ter uma idéia, no livro “Por Dentro do Governo Lula”, (lançado em 2005), a cientista política Lucia Hippolito afirma que nas eleições de 2002 mais de 93% dos 513 deputados federais foram eleitos com votos de legenda. Apenas 33 deputados se elegeram com votos próprios.
Professora de Sociologia e Psicologia da Educação, a autora do livro Policidadania - Política e Cidadania, Lucrecia Anchieschi, acredita no projeto de lei que prevê listas fechadas de candidatos para as próximas eleições como solução. “Os eleitores não votariam mais individualmente em seus candidatos a vereador, deputado estadual e federal, mas nos partidos, que concorreriam nas eleições com listas de candidatos pré-selecionados em convenções. Por exemplo: se um partido tiver direito a oito cadeiras, entrarão os oito primeiros nomes da lista.”
Hoje a eleição já é proporcional. A diferença é que os eleitores votam em candidatos individualmente. Esses votos, somados, revertem-se para os partidos, e cada um elege determinado número de candidatos, na proporção dos votos obtidos.

Fidelidade partidária e financiamento das campanhas eleitorais

Atualmente todo parlamentar é dono do próprio mandato. Elege-se por uma bancada e a troca por outra quando bem entender. A ideologia a história e a tradição de cada grupo partidário passa a ser secundário, e o espaço que o partido possui na mídia se torna fundamental. Segundo Lucrecia o ideal é que o candidato tenha a obrigatoriedade de ficar pelo menos 2 anos filiado.“O partido tem que ter autonomia sobre o parlamentar, pois os mandatos legislativos de qualquer natureza pertencem a ele, desta maneira o candidato que mudar de bancada, deveria perder o respectivo mandato.” Outro problema lembrado por Lucrecia é o financiamento das campanhas eleitorais. Segundo a socióloga, o financiamento deve ser feito inteiro com dinheiro público. “Não sabemos o que pessoa física e jurídica com interesses políticos diversos, pode querer ao financiar uma campanha política.” O projeto de lei que regulamentará o financiamento também está incluso na pauta da Reforma Política que deve ser votada até maio, segundo o Presidente da Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia.



terça-feira, 24 de agosto de 2010

A pseudo Inclusão Digital e o Debate On Line

A Internet ocupa cada vez mais espaço na vida dos chamados “incluídos digitais”. Definir o que é inclusão digital e quantos são os incluídos é tarefa das mais complicadas senão impossível. No artigo “O caráter pseudo da inclusão digital” a pesquisadora Denise Correa Araújo afirma que, “seria difícil dizer até que ponto é possível afirmar que há uma inclusão digital, se considerarmos que muitos usuários da rede a usam somente para seus e-mails. Seria isso a inclusão digital?” Somado a isso, podemos imaginar também as crianças que frequentam demasiadamente lan houses como se fossem cassinos, apenas para jogos. A inclusão digital ainda me parece distorcida. Enquanto ferramenta, a Internet, para atingir o objetivo real da inclusão precisa ser usada para facilitar o dia a dia, evitar uma ida ao banco ou a banca de jornais por exemplo ou o uso do telefone além do acesso fácil a notícias mundiais e a praticamente qualquer conteúdo de interesse do usuário.

Debate on line
Semana passada, pude assistir ao primeiro debate on-line no Brasil, feito pela Folha/Uol e transmitido ao vivo por vários sites. Pelo Twitter, o debate era assistido e comentado simultaneamente gerando uma interatividade inédita.
Ao meu ver o debate propiciou ao público os principais pilares do que a Internet pode gerar de positivo e em especial um dado negativo.

Interação e convergência

Houve uma real e saudável interação e convergência dos meios de comunicação.
Qualquer indivíduo em qualquer lugar do mundo, munido de um computador conectado a Internet, pôde em tempo real: assistir ao debate, comentar o conteúdo, ver comentários de outros internautas e ler opiniões de jornalistas e especialistas que logo postaram textos na Internet (seja em portais, sites de jornais ou blogs). Alguns internautas ainda tiveram a oportunidade de fazer perguntas (previamente gravadas) aos candidatos.
Essa mudança do eixo central da comunicação (TV / Impresso) e sua descentralização para a Internet é super positiva no sentido de dar voz aos comunicados que ganham o direito de ser também e por que não, comunicadores, na medida em que de pronto (assim como faço neste texto) publicam suas opiniões.
O problema, e por isso deixei claro haver ainda um ponto negativo, é que a grande mídia e, consequentemente, a lógica capitalista é quem organiza e apresenta esse show. No momento de selecionar as perguntas dos internautas para os candidatos me pareceu (assim como a capa da revista Época sobre o passado de Dilma) que a parcialidade do meio foi embora. Em um debate onde o intuito era expor propostas, o Folha / Uol, selecionou e fez uma pergunta a candidata Dilma no mínimo constrangedora. Não era mentira, a pergunta foi baseada em fatos, porém, que nada tinham a ver com propostas. A pergunta, em linhas gerais, foi: “Como você se sente sendo o resto do PT, aquilo que sobrou e que apenas por isso foi escolhida para ser candidata?”
Não quero defender esse ou aquele candidato. Mas se é para bater vamos bater, se é para ouvir vamos ouvir. Acho que perguntas como essa não acrescentam nada a exposição de propostas. Mas se era para partir para esse lado, por que não perguntaram ao Serra, para equilibrar o desconforto, algo como: Como você se sente tendo rachado seu partido e criado inimizades com os principais ícones do PSDB? ou ainda: O que você tem a dizer sobre candidatos que assumem compromisso com um cargo público por 4 anos e largam para concorrer a um cargo melhor?

Internet, interatividade e convergência são pontos positivos, mas falta transparência. O povo não é passivo a tudo e, com um bom uso da Internet pode começar a enxergar as distorções. Mas esse ainda é um longo caminho que começa por melhores políticas de educação, a base do esclarecimento.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Começa a jornada do mestrado

Na teoria: primeiro dia como aluno da Cásper, primeira reunião oficial com o orientador, primeiro salgado na cantina, primeiro xerox, primeira aula, primeiro contato com os colegas de classe...

Na prática é o começo de uma jornada a ser cumprida em dois (curtos) anos. Muita (muita mesmo!) leitura, seminários, redações, conversas, debates e também a solidão teórica que dividirei hora com o papel hora com o meu dell.

Além da titulação, que é objetivo óbvio de todos, há algo mais. Há um papel humano a ser desenvolvido. Não quero dizer com isso que há um objetivo de se mudar algo na humanidade. Há sim, antes de mais nada, o objetivo de mudar o pensamento do pesquisador em questão, eu.

Aliado a curiosidade e a objetivos pessoais e profissionais, o segredo será entender o objetivo geral dessa nova tarefa que me surge como essencial, a pesquisa. O que é fazer pesquisa? Pior, o que é fazer pesquisa em comunicação? Qual o papel disso na sociedade? É fácil justificar a função de uma pesquisa quando se está, por exemplo, pesquisando a cura de alguma doença ou a forma mais eficiente de se produzir algo em determinado setor visando maiores lucros e sustentabilidade.

Mas e em comunicação?

Diferente de uma matéria jornalística, onde praticamente qualquer tema bem escrito e permeado por bons personagens pode virar uma boa história, na pesquisa em comunicação a pergunta é: como transformar um bom tema, recheado de teorias e conhecimentos empíricos em um bom projeto que gere algum conhecimento científico?

A pergunta para mim ainda está sem resposta e é o principal objetivo da jornada do mestrado que acaba de começar.

Existe uma comunidade no orkut chamada: “Mestrado gera traumas”. Pode ser. Depende da forma como você o encara. Se for algo prazeroso e feito por motivações pessoais dignas acredito que gere no máximo fadiga, não traumas. Acredito que gere também muito conhecimento, boas amizades e também uma boa profissão.

Avante!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sexo, Drogas, Rock'n Roll e Ditaduras


A década de 1960 foi palco de grandes agitações socioculturais pelo mundo. Época dos anos rebeldes, do “sexo, drogas e rock’n’roll”, de grandes revoluções comportamentais como o feminismo e até festivais musicais como o Woodstock.
No cenário político, o mundo ainda vivia o medo e a insegurança da Guerra Fria, conflito entre EUA e URSS que ameaçava eclodir a qualquer momento uma verdadeira guerra entre as duas superpotências do pós-guerra. Conforme conta Hobsbawm, “gerações inteiras se criaram à sombra de batalhas nucleares globais que, acreditava-se firmemente, podiam estourar a qualquer momento e devastar a humanidade”.
Essa guerra não eclodiu, mas apesar da ausência de guerras diretas entre os Estados Unidos capitalista e a URSS comunista, vários foram os conflitos e movimentos apoiados e financiados pelas duas potências no intuito de manter os países que compartilhavam de sua ideologia longe da ameaça inimiga. Segundo Emir Sader, “o mundo da segunda metade do século não assiste a nenhum choque armado direto entre as duas grandes potências, embora elas estivessem vinculadas a praticamente todos os conflitos bélicos locais - e foram dezenas – que povoaram a segunda metade do século XX”.
Não obstante, os EUA não conseguiram evitar a Revolução Cubana e a conseqüente implantação do sistema socialista por Fidel Castro em Cuba, ilha a 120 km do território do Presidente Nixon.
A partir daí, a manutenção do sistema capitalista no mundo ocidental passou a ser intensificada e acompanhada mais de perto pelos norte-americanos. Uma estratégia bastante usada pelos EUA foi o apoio e financiamento a golpes militares de direita na América Latina para sufocar possíveis movimentos comunistas inspirados pela Revolução Cubana. Segundo Sader, “não foi somente pela inserção direta do continente nos conflitos da Guerra Fria que a Revolução Cubana marcou tão fortemente a segunda metade do século na América Latina. Seu impacto mais direto esteve ligado às reformas que introduziu em Cuba, no momento em que se esgotava no resto do continente o ciclo econômico do segundo pós-guerra e se instalavam várias ditaduras militares como conseqüência dos conflitos gerados por uma nova conjuntura política”.

E o receio por parte dos EUA de que outros países latino-americanos se espelhassem em Cuba era real, pois Cuba, que passou a ser aliada da outra superpotência, a URSS, precisava e planejava implantar seu regime em outros países latinos para não ficar isolada. De acordo com Ricardo Rojo, “era a necessidade urgente, para Cuba, de reconstruir seus laços com a América Latina, mas estes laços já não se podiam estabelecer sobre a base de relações entre países de regime político diferente, mas unicamente a partir de revoluções socialistas nos referidos países. Em 1963, Guevara enfrentou resolutamente a realidade americana com a intenção de obter resultados nessa linha. Se a América Latina capitalista se recusava a coexistir com a Cuba socialista, Cuba encarregar-se-ia de ajudar a todos os revolucionários para que seus países deixassem de ser capitalistas”.
Para se ter uma idéia, sete dos dez países sul americanos enfrentaram ditaduras militares durante a Guerra Fria. Foram eles: Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia, Equador e Paraguai - no Peru sobrevivia a ditadura do general Velasco Alvarado, sem que se possa enquadrá-la na tipologia antevista por Nixon.
No Brasil, o regime militar foi implantado em 31 de março de 1964 e teve seu auge em 1968 com a edição do AI-5, que dava poderes extraordinários ao Presidente da República e suspendia várias garantias constitucionais. Com isso, o governo fortaleceu a chamada linha dura do regime militar.
O que seguiria a partir daí seriam os Anos de Chumbo, auge das repressões sobre quem não concordasse com o Regime. É nesse cenário que a Rede Globo se fortalece, estréia o Jornal Nacional e passa a ser o meio de comunicação mais poderoso do país. Carlos Eduardo Lins da Silva afirma que, “nesse meio tempo [de 1957 até 1976], a Globo realizou uma revolução técnica, gerencial e artística na televisão do Brasil. Não parecia que iria chegar a tanto quando entrou pela primeira vez no ar o Canal 4 do rio de Janeiro. Em menos de quatro anos, assumiria a liderança absoluta de audiência, a ponto de convertê-la em virtual monopólio e tornar comum a acusação de que se transformara numa espécie de um ministério extra-oficial da informação no país” Para o músico e compositor Chico Buarque de Holanda, que teve várias de suas obras censuradas pela ditadura, a Rede Globo foi além da censura oficial. Chico Buarque conta que, “Eles proibiam minhas músicas, a censura proibia algumas músicas minhas, isso que era oficial do governo. Agora a TV Globo se encarregou de ser mais realista [...] e reforçar essa censura proibindo o meu nome. Eu acho que ele (Roberto Marinho) é mais poderoso que esse cidadão Kane inclusive. O cidadão Kane nunca imaginou que tivesse esse poder todo. O Roberto Marinho hoje é a força política mais importante em um país de 150 milhões de habitantes. Nada se faz sem consultar o Roberto Marinho. É assustador”.
A situação descrita por Chico Buarque parece ilustrar a ficção de George Orwell e o seu “Grande Irmão”. Quando seu personagem Winston, habitante de Oceania diz que, “o nome do cidadão era removido dos registros, suprimida toda menção dele, negada sua existência anterior, e depois esquecido. Era-se abolido, aniquilado; vaporizado era o termo corriqueiro”.

sábado, 22 de maio de 2010

Jornal Nacional: A ferramenta da Ditadura


“Eram 19h56 quando o locutor Hilton Gomes anunciou: ‘O Jornal Nacional da Rede Globo, um serviço de notícias integrando o Brasil Novo, inaugura-se, nesse momento: imagem e som de todo o país’. O ‘Brasil Novo’ tinha a informar que Costa e Silva apresentara ‘o primeiro sinal da crise circulatória [na] quinta-feira’ da semana anterior. (Foi na quarta.) ‘Sentiu dor de cabeça e tonteira.’ (Perdeu a voz.) ‘Na sexta, chegou ao Rio passando mal.’ (Chegou com um quadro clássico de isquemia cerebral.) ‘Passou bem a noite e está em recuperação.’ (Estava prostrado na cama, tão paralítico e mudo quanto no sábado. Escondia o braço debaixo do travesseiro quando via que iam lhe aplicar mais injeções. Alimentava-se de líquidos e papas)”. GASPARI, Elio, A Ditadura Escancarada, p.105.

No dia primeiro de setembro de 1969 estreava na Rede Globo o Jornal Nacional, primeiro programa a ser transmitido em rede nacional no Brasil. O programa inaugurou um novo estilo de jornalismo na TV brasileira e seu surgimento coincide com o endurecimento do regime militar. Em pouco tempo, o jornalístico se tornou o principal, e às vezes o único, meio de informação dos brasileiros.
Logo em sua edição inicial, a TV Globo, já deu pistas sobre seu poder de distorcer fatos, além de sua aparente combinação com o regime militar.
Quanto à distorção dos fatos, o jornalista Bernardo Kucinski conta que, “a TV Globo vai além da mera distorção consciente dos fatos – ela tenta instituir a história, determinar o destino da nação. Para isso, cria continuamente uma realidade impostada e, em várias ocasiões, assumiu a vanguarda da arte de falsear e até substituir a realidade”.
Já em relação à parceria com o governo, Kucinski ainda completa que, “o Estado [...] conduziu um processo de exclusão das massas e silenciamento das oposições. Deu-se uma total mudança nos mecanismos ideológicos de persuasão, com o recuo dos jornais e a ocupação desse espaço pela Rede Globo de televisão”.
Sobre isso, temos também o depoimento de Inimá Simões que disse que, “coube à TV cumprir um papel encomiástico, louvaminheiro. Como já foi dito, ela foi o meio de comunicação escolhido para louvar as realizações da ditadura militar, do Brasil potência do general Médici, cuja imagem destinada à história (apesar de ter sido o presidente do período mais obscurantista da nossa história) é a do presidente-torcedor, com o radinho de pilha grudado na orelha, acompanhando transmissões esportivas e saudando a seleção tricampeã de futebol na volta do México.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A essência do espetáculo


“O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como arte. A verdade de que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem. Eles se definem a si mesmos como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores gerais suprimem toda dúvida quanto à necessidade social de seus produtos.”

O texto acima foi publicado em 1947 pelos sociólogos Theodor Adorno e Max Horkheimer no livro “Dialética do Esclarecimento”. O cinema, ao qual eles se referiam, é o que hoje provavelmente entendemos como cinema clássico. “Aquilo que era cinema”, alguns mais entendidos na sétima arte devem pensar.

Me sinto obrigado a tocar nesse assunto pois, após três “espetáculos” seguidos a que assisti recentemente, me ficou claro o seguinte: O cinema (comercial) de hoje é espetacular!

E isso não é um elogio. Digo espetacular no sentido apocalíptico que o crítico francês Guy Debord utiliza para falar da nossa sociedade. O cinema produzido hoje para as massas parece que esqueceu que os fatores principais da sétima arte são, nada mais nada menos que: ROTEIRO e INTERPRETAÇÃO! E que me perdoem os fãs de efeitos especiais e histórias mirabolantes, mas ao que me parece, todo esse barulho que o cinema vem fazendo encobre totalmente a falta de personagens bem interpretados.

Semana passada, fui assistir ao filme “Alice no país das Maravilhas”. Muita cor, efeitos, belas filmagens, enfim: baita filme bonitinho, como provavelmente dirão a maior parte das garotas que forem assistir. Uma semana depois vi "Homem de Ferro 2". Confesso que nenhum dos dois fazem o meu tipo, mas enfim, por questões das mais diversas (não faço idéia) vi os dois.

Entre os dois “espetáculos”, fui ao teatro popular do SESI, na Av. Paulista onde vi, maravilhado, o espetáculo (agora sim uso o termo como elogio) “Tempo de Comédia”. Montagem e cenários perfeitos. Interpretações deslumbrantes, história hilária, realista e principalmente construtiva, com conteúdo.

O engraçado é que a história da peça de certa forma constroi sua comédia zombando, não exatamente do cinema a que me refiro, mas da precariedade roteiro X interpretação que parecem estar dando lugar as técnicas espetaculares que (para mim) só fazem barulho mas vendem (o que posso dizer, eu também contribuí...) .
A trama se passa em um futuro não tão distante, onde robôs substituíram atores nas novelas de baixo orçamento. Na peça, a situação parece engraçada e apenas inusitada. Mas o problema é que na vida real, de forma menos caricata, sinto falta dos humanos no cinema (popular), parece que se transformaram em “actóides”.

Fica a dica de Tempos de Comédia, que, apesar de conter o fator humano em seu espetáculo, com ótimo texto e interpretações, é gratuito, enquanto o cinema espetacular... bom ... deixa pra lá.

Serviço: http://www.sesisp.org.br/home/2006/centrocultural/Prog_teatro_tempocomedia.asp

terça-feira, 9 de março de 2010

A novela das candidaturas


PT

De acordo com o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, a Ministra da Casa Civil, Dilma Russeff, entregará o cargo entre os dias 29 e 30 de março para se dedicar à campanha presidencial. Em seu lugar assumirá a secretária-executiva Erenice Guerra, braço direito da candidata.
Dutra revelou ainda que Dilma receberá um salário em torno de R$10 mil, valor próximo do que recebe hoje como ministra - R$10.748.
Ao deixar a Casa Civil, Dilma perderá o direito de usar uma residência do governo no Lago Sul (área nobre da cidade) e, por isso, o PT também alugará dois imóveis para Dilma em Brasília: um escritório político e uma casa no mesmo bairro.

Tucanos

Do lado tucano a demora de Serra em oficializar a candidatura paralisa os planos do PSDB.
Além dos oponentes verem Dilma crescer nas pesquisas e se adiantar na questão logística da campanha, ainda ficam de mãos atadas em respeito às eleições ao governo de São Paulo.
Na capital paulistana, Geraldo Alckmin é apontado como favorito à sucessão de Serra, mas ainda, segundo o partido, não pode assumir a candidatura.
"Definir agora a candidatura do Geraldo é como dizer que o Serra, mesmo que queira sair candidato à reeleição em São Paulo, não vai ter essa chance", disse o Presidente do diretório paulista do PSDB, o deputado Mendes Thame.

quinta-feira, 4 de março de 2010

A chapa tucana


Governador de São Paulo, José Serra, confirmou ontem à cúpula do PSDB que é candidato à Presidência da República.
Em evento comemorativo aos 100 anos de Tancredo Neves, o abraço entre os tucanos de Minas e São Paulo, Serra e Aécio, serviram apenas para dar ao PSDB um gostinho daquilo que é o grande sonho da maioria tucana: uma chapa com Serra e Aécio.
Porém, no mesmo evento, questionado sobre a intenção do PSDB em tê-lo como vice na chapa de Serra, Aécio disse: "Não adianta empurrar, empurrado eu não vou", frase eternizada pelo seu avô Tancredo Neves em 1985, quando foi pressionado pelo então deputado João Amazonas para assumir "posições radicais" para a época.

terça-feira, 2 de março de 2010

Padrões de manipulação na grande imprensa


Um ensaio de Perseu Abramo


1. O legado ético de Perseu Abramo e de Aloysio Biondi - por José Arbex Jr

Na apresentação, Arbex começa exaltando a mídia brasileira no sentido de sua qualidade técnica. A Rede Globo, por exemplo, pode ser equiparada com empresas de comunicação do mundo inteiro sem nada deixar a desejar. Motivo de orgulho? Não. “Azar o nosso”, diz Arbex. O poder de manipulação dessas empresas se torna gigante. Elas passam a ter em mãos a possibilidade de dar ao público apenas aquilo que lhe convêm. A guerra do Golfo, por exemplo, foi uma guerra sem mortes nem horrores na visão do povo que não tinha ou não queria ter acesso a outras fontes de informação que não os telejornais globais. Arbex expõe Abramo e Biondi como dois grandes mestres que mostraram como a imprensa constrói os fatos em base a manipulações e passa a ser “uma coluna de sustentação ao poder”. (O 4º poder)
A tecnologia traz a imprensa um novo padrão de manipulação não analisado por Abramo. A amnésia criada pela velocidade da informação.
“Se a imprensa constrói verdades e realidades irreais para manipular a população, podemos construir então uma grande enciclopédia das manipulações adotando ensinamentos de Abramo e Biondi”, finaliza Arbex.


2. A atualidade dos estudos do jornalista e professor Perseu Abramo - por Hamilton Octavio Souza

Hamilton inicia seu prefácio com breves dados acadêmicos profissionais de Abramo.
Algumas das pesquisas na área de manipulação na mídia e comparações entre a imprensa e os partidos políticos feitas por Abramo ficaram de lição para o próprio Hamilton, que foi aluno do professor Perseu Abramo.
Abramo trabalhou 15 anos como professor do curso de jornalismo da PUC-SP, de 1981 a 1996, ano de sua morte. Lecionou também na UnB e na UFBA. No campo prático, Abramo trabalhou nas redações de O Estado de S.Paulo, da Folha de S.Paulo e no Jornal dos Trabalhadores, do Partido dos Trabalhadores – PT.
Na época em que trabalhava na Folha, participou de greves que levaram a sua demissão do veículo e acompanhou criticamente o nascimento e implantação do Projeto Folha que trouxe a redação manuais e decretos.
Fala-se também de objetividade, falsa objetividade e das reais motivações que levam a imprensa a manipular a informação. Para Abramo a motivação das empresas em manipular, foge do campo econômico para reinar no campo da obtenção de poder, na lógica política.
Nisso a imprensa passaria então a adotar um discurso positivo oficial, como feito no governo FHC. Ou seja, ao invés da reportagem, a informação passa a ser as declarações do poder. A esse padrão de manipulação Abramo dá o nome de oficialismo, que mais tarde se transformaria em autoritarismo.
Esses modelos estudados por Abramo nos ajudam a entender hoje como jornalistas (egressos das universidades e conhecedores dessa técnicas) manipulam a informação por meio de ocultação, fragmentação ou inversão dos fatos. Com isso, aprendemos também a ler essas informações tentando fugir ao máximo da manipulação exercida pela imprensa.
Hamilton encerra seu texto falando da importância desse texto de Abramo, publicado junto com o texto de Aloysio Biondi para a formação de uma visão critica dos esquemas de manipulação, e para estimular a transformação e a formulação de um novo jornalismo.



3. Significado político da manipulação – por Perseu Abramo

“Uma das principais características do jornalismo no Brasil, hoje, praticado pela grande imprensa, é a manipulação da informação”.
Assim começa o texto de Perseu Abramo. Para ele, essa manipulação cria uma realidade irreal, ou seja, faz o público acreditar em uma realidade que não é real. Essa irrealidade passada como real, é na verdade a realidade que mais interessa a empresa de comunicação para a obtenção do poder segundo articulações políticas, como já comenta Hamilton Octavio Souza em seu texto.
Dito isso, Perseu Abramo passa a listar os padrões de manipulação por ele estudado.

1. Padrão de ocultação – É o padrão que se refere a ausência e à presença dos fatos reais na produção da imprensa .
2. Padrão de fragmentação – Eliminados os fatos definidos como não-jornalísticos, o resto é apresentado pela imprensa ao leitor não como uma realidade, mas como um real completamente despedaçado e estilhaçado.
3. Padrão de inversão – Fragmentado o fato em aspectos particulares, todos descontextualizados, entra o padrão de inversão que reorganiza as partes com troca de lugares, de importância. A substituição de uma pelas outras passa a criar uma realidade artificial.
4. Padrão de indução – Submetido, ora mais, ora menos, mas sistemática e constantemente, aos demais padrões de manipulação, o leitor é induzido a ver o mundo não como ele é, mas sim como querem que ele o veja.




“Padrões de Manipulação na grande imprensa”
Um ensaio inédito de
Perseu Abramo
63 páginas.
Editora Fundação Perseu Abramo.

Música


Fragmentos da época da faculdade (agosto de 2005)

Ainda não foi encontrado nenhum registro que possa dizer com exatidão quando se deu o surgimento da música. Muitos nem tentam arriscar palpites, enquanto outros acreditam que já na antiguidade, nos rituais do Homem de Neanderthal, os sons eram considerados presentes do Desconhecido e ganhavam uma conotação mágica dentro dos ritos de agradecimento, de passagens e tantos outros ainda não desvendados.

Os primeiros registros oficiais sobre a História da Música surgem na Grécia, em forma de mitologia. Conta-se que, após a vitória dos deuses do Olimpo sobre os seis filhos de Urano, foi solicitado a Zeus a criação de divindades capazes de cantar as vitórias dos Olímpicos.

À música dão-se relações ligadas ao emocional do ser humano em praticamente todas as áreas e fases de sua vida. Segundo o estudante de Rádio e TV da Universidade São Judas, Fabio Banin, a música pode levantar ou derrubar alguém. “O humor da pessoa é fundamental na escolha do que vai ouvir, tocar ou compor. À música estão ligados sentimentos, lembranças e emoções.”afirma Banin.

O grande número de bandas formadas nas épocas do colegial ou faculdade comprova isso. É na adolescência e juventude que as pessoas mais procuram meios de expressar o que estão sentindo ou até mesmo de relaxar e tentar entender-se. Muitas das atuais bandas de sucesso nasceram dessa forma como os Engenheiros do Hawaii por exemplo, banda formada por três ex-estudantes de engenharia apaixonados por surf.

As trilhas sonoras e vinhetas das programações audiovisuais passaram a contextualizar o telespectador ou o ouvinte na programação do momento e até de que horas são. Atualmente a música faz parte da teoria da Agenda-Setting - teoria que fala sobre a rede de programação em horários fixos que vicia as pessoas a eles -. “Ninguém assiste a uma novela apenas pela trilha sonora do personagem, mas a música ajuda a chamar a atenção e situar as pessoas sobre o que está passando. A pessoa ouve a música e corre para a TV. A trilha passa a servir de despertador para o telespectador.” diz Banin.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Ascensão, apogeu e queda


“Por quanto tempo o maior tomador de crédito do mundo pode se manter como a maior potência?” Lawrence Summer, assessor do presidente Barack Obama.

A afirmação acima faz referência à situação econômica norte-americana atual. Com um gigantesco rombo nas contas públicas, o papel que os Estados Unidos exercem hoje no mundo pode estar em fase de transição (analisa uma longa matéria publicada ontem no The New York Times: http://www.nytimes.com/2010/02/02/us/politics/02deficit.html?hp )

Segundo a proposta do orçamento apresentada ontem, as despesas do governo dos EUA no próximo exercício fiscal vão superar as receitas em US$ 1,6 trilhão.
Esse déficit equivale a 11% do Produto Interno Bruto do país.
Acima de 3%, economistas já consideram a situação insustentável.

Para tentar reduzir esse problema os Estados Unidos têm tomado crédito de, adivinhem quem ... da China. Justamente um dos países que mais exportam ‘bugigangas’ para os EUA.

Para a China, a diminuição no consumo norte-americano representa diretamente a baixa em sua própria balança comercial, afinal, seu principal cliente já não pode consumir tanto quanto antes.

A China, por sua vez, é um grande cliente do ..... BRASIL! Automaticamente, com a baixa nas exportações da China para os EUA, menos matéria prima o Brasil irá exportar para o oriente. Engraçado não é? É por isso que hoje não podemos mais dizer: “ Cada um com os seus problemas”.

É a globalização.

Agora, balança comercial à parte, há de se verificar o seguinte:

O que a China faz hoje pelos EUA, ou seja, emprestar dinheiro para que os norte-americanos possam comprar seus produtos, já foi feito pelos Estados Unidos após a 1Guerra Mundial. (1918-1929)

Com a Europa toda bombardeada, os EUA emprestaram gentilmente seus dólares para que o velho continente pudesse, com isso, importar grande quantidade de produtos industrializados da terra do Tio Sam (Na ocasião, a reestruturação dos países europeus culminou com a grande crise de 1929).

Foi aí, inclusive, que tivemos uma troca de grande potência mundial.
Até então a Grã-Bretanha era tido como o país mais influente do mundo.

Ou seja, é fato histórico que nenhuma potência dura para sempre. Todas vivem ascensão, apogeu e queda.

Os EUA tiveram sua ascensão no entre-guerras (1918/29), apogeu na era de ouro (pós 2ºGuerra Mundial) e parece que agora viverá sua queda. Não como país rico e desenvolvido, mas sim como maior potência mundial.

Voltamos à frase: Por quanto tempo um país pode ficar tomando crédito de países (menos desenvolvidos) e continuar sendo a grande potência?

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Lenda índigena



Sempre gostei muito de falar. Já no jardim da infância era assim. Tenho um documento guardado pela minha mãe onde uma professora do jardim 2 dizia : “Criança atenciosa e inteligente. Porém fala demais com seus amiguinhos. As vezes atrapalha as atividades”.
Pois é. O tempo passou e pouca coisa mudou. Porém, essa minha característica, que me rendeu vários apelidos na infância, tipo matraca, por exemplo, me ajudaram a escolher minha faculdade: Comunicação.
Perfeito, não é? Vamos ganhar a vida com a voz agora. Basta falar igual aos jornalistas falam na TV. Parece fácil. É tão natural não é verdade?
Engano.
Resolvi aproveitar os cursos de férias que acontecem por essa época para me atualizar. O curso escolhido foi “Apresentador de Telejornais”, no Senac-SP.
Logo no segundo dia, aula de interpretação, com um ator e diretor de teatro. (Pois é, fazer teatro é primordial para conseguir apresentar bem um jornal).
Fila para ver quem será o primeiro a ser bombardeado pelo professor. Um a um todos teriam que gravar um texto para posterior avaliação - do diretor de teatro e não de um jornalista.
Para piorar, faríamos sem conhecer o texo. Para dificultar um pouco mais, não era um texto jornalístico. Era um poema de José de Alencar.
Na bancada, nervosismo, tremeliques e pessoas travadas.
O professor, quer dizer diretor, pedia emoção, naturalidade e até gritos se fosse preciso.
Foi uma bela experiência. Começamos pelo pior. Segundo o professor, apresentar um texto como esse sem ao menos conhecer o conteúdo, torna o resto fácil, tira a pressão.
Bom, sobrevivemos!!!

Segue texto que lemos na íntegra sobre olhares atentos dos outros alunos.

Lenda Indígena

”Foi longe, bem longe dos tempos de agora. As águas caíram, e começaram a cobrir toda a terra. Os homens subiram ao alto dos montes; um só ficou na várzea com sua esposa.
“Era Tamandaré: forte entre os fortes; sabia mais que todos. O Senhor falava-lhe de noite; e de dia ele ensinava aos filhos da tribo o que aprendia do céu.
“Quando todos subiram aos montes, ele disse:
“– Ficai comigo; fazei como eu, e deixai que venha a água.
“Os outros não o escutaram; e foram para o alto; e deixaram ele só na várzea com sua companheira, que não o abandonou.
“Tamandaré tomou sua mulher nos braços e subiu com ela ao olho da palmeira; aí esperou que a água viesse e passasse; a palmeira dava frutos que os alimentava.
“A água veio, subiu e cresceu: o sol mergulhou e surgiu uma, duas, três vezes. A terra desapareceu; a árvore desapareceu; a montanha desapareceu.
“A corrente cavou a terra, cavando a terra, arrancou a palmeira; arrancando a palmeira, subiu com ela; subiu acima do vale, acima da árvore, acima da montanha.
“A água tocou o céu; e o Senhor mandou então que parasse. O sol olhando só viu céu e água, e entre a água e o céu, a palmeira que boiava levando Tamandaré e sua companheira.
“Todos morreram. Á água tocou o céu três sóis com três noites; depois baixou; baixou até que descobriu a terra.
“Quando veio o dia, Tamandaré viu que a palmeira estava plantada no meio da várzea; e ouviu a avezinha do céu, o guanumbi, que batia as asas. “Desceu com sua companheira e povoou a terra”.
[In “O Guarani”, de José de Alencar]

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Teoria da Conspiração


Em meio as notícias do caos no Haiti e dos estragos causados pela chuva em São Paulo, uma matéria lida hoje me chamou a atenção pelo absurdo.
Para alguns pode parecer apenas mais uma ‘teoria da conspiração’.
Não sei. Tento filtrar tudo e levar em consideração as fontes e principalmente os interesses envolvidos nos manifestantes.

Então vamos tentar montar a cena:

Acusado: EUA
Acusadores: Venezuela e Rússia
Crime: Ter causado o terremoto do Haiti (isso não parece sério demais?)
Base de argumentação: Relatórios preparados pela Frota Naval Russa

Pois é, parece absurdo, não é? Lembra-me a acusação do cineasta Michael Moore no documentário “Fahrenheit” onde ele sugere (chega a ser educado o uso dessa palavra) que o 11/09 teria sido arquitetado pelo governo americano para justificar o ataque ao Iraque, e a todo o mundo islâmico.

Os trechos abaixo foram retirados do relatório feito pela Frota Naval Russa, que monitorou os movimentos e as atividades navais americanas no Caribe desde 2008, quando os EUA anunciaram sua intenção de restabelecer a Quarta Frota, dissolvida em 1950.

Trechos interessantes do relatório Russo:

“A experiência feita no Pacífico teria provocado um terremoto de magnitude 6,5 em Eureka, na Califórnia, sem vítimas. Enquanto o teste realizado no Caribe provocou a morte de pelo menos 140 mil inocentes".

“É mais que provável que Washington tivesse conhecimento total do catastrófico dano que este teste de terremoto poderia ter sobre o Haiti. Por isso posicionou seu comandante do Comando do Sul, o general P.K. Keen, na ilha. Para supervisionar os esforços de ajuda, caso fossem necessários".

"No resultado final dos testes destas armas está o plano dos EUA da destruição do Irã através de uma série de terremotos pensados para derrubar seu atual regime islâmico".

"O Departamento de Estado, Agência Americana de Cooperação para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e o Comando Sul dos EUA começaram a invasão humanitária ao enviar pelo menos dez mil soldados e empreiteiros para controlar, no lugar da Organização das Nações Unidas, o território haitiano após o devastador terremoto experimental".

Os trechos foram retirados do relatório da Frota Norte Russa, divulgada pela agência de notícias O Globo.

A conclussão sobre essas informações eu deixo na responsabilidade dos leitores...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

História esquecida


Às vésperas do aniversário de 456 anos da cidade de São Paulo, sítio arqueológico é encontrado durante o processo de reurbanização do Largo de Pinheiros, que espera a implantação de uma estação de metrô.

A descoberta, porém, parece não ter sido bem vista pela prefeitura de SP e pela Emurb (Empresa Municipal de Urbanização).

Irritada e preocupada com o atraso das obras, a prefeitura tenta abafar o achado com a proibição da entrada de jornalistas e câmeras. Os arqueólogos que trabalham no local também foram advertidos a não darem entrevistas.

Vários objetos como louças holandesas, francesas e inglesas já foram encontrados, além de garrafas do século XIX.

Para ver de perto a área das escavações, basta ir até a Rua Fernão Dias, 700 e olhar por entre as tábuas de madeira compensada que cercam o local.

Descobertas arqueológicas desse tipo são fundamentais para que possamos entender nossas origens, porém, parecem perder espaço para o crescimento (incansável) da nossa metrópole.

A prefeitura faz pouco caso. Só quer saber de entregar a obra prometida no prazo para não causar mais polêmicas, neste, que é um ano de eleição.

Por outro lado penso se esse ‘pouco caso’ com a descoberta não é um problema maior do que apenas um prefeito preocupado com a eleição. Segundo os arqueólogos que trabalham no local, os cartazes explicativos colocados por eles em frente ao sítio despertam pouca ou nenhuma atenção das pessoas que passam por lá.

Com a vida corrida que se leva em SP hoje, com o que será que a maior parte da população está mais preocupada? Com achados arqueológicos ou com a ampliação do metrô (que pode fazer com que as pessoas cheguem mais rápido em casa)?

É triste para um jornalista apaixonado por história como eu admitir isso, mas parece que a história do que fomos e de como chegamos aqui cai, cada vez mais, dentro do buraco negro gigante gerado pela correria do dia-a-dia da grande metrópole.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Palavras infelizes



Em matéria veiculada ontem pelo SBT, o cônsul do Haiti no Brasil George Samuel Antoine, sem saber que estava sendo gravado, fez comentários racistas, infelizes e demonstrou total descaso pelos acontecimentos em seu país.

Perguntado sobre o terremoto, o cônsul mostrou-se otimista: “A desgraça de lá está sendo uma boa para agente aqui, fica conhecido”, afirmou o diplomata.

Após isso, ainda culpou a população negra da ilha pela desgraça ao afirmar que o terremoto pode ter sido causado por macumba: “Acho que de tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo (...) O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano ta f...”

George possui mais de 100 familiares no Haiti e nenhuma notícia deles.

Segue link da reportagem:
http://noticias.uol.com.br/ultnot/multi/2010/01/14/04021B3266D4990326.jhtm?consul-haitiano-afirma-que-o-africano-em-si-tem-maldicao-04021B3266D4990326


Um pouquinho de história

O país hoje considerado o mais pobre das Américas e um dos mais pobres do mundo - pelo menos 80% da população vive em condições de extrema pobreza – já foi, no século XVIII, a mais próspera colônia francesa nas Américas, graças à exportação de açúcar, café e cacau.

Já no século XX, tropas dos EUA dominaram a ilha durante 20 anos sob a alegação da defesa de interesses próprios, o que acabou levando ao poder um governo ditador que castigou e trouxe mais pobreza ao povo haitiano. (Papa Doc e Baby Doc ).
- Qualquer semelhança com o fato descrito acima e os governos ditatoriais no resto da América Latina não são mera coincidência, são os interesses norte-americanos acima dos direitos de se ser humano.

Parece que alguns países ricos de hoje tem uma grande dívida com esse povo caribenho, não acham?
Reconstruir o Haiti é, antes de mais nada, uma obrigação dos EUA e União Européia.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Saldos parciais no Haiti


Complementando o comentário de ontem sobre o Haiti, os estragos descritos até o momento são realmente assustadores.
O número de mortos já chega na casa dos 100 mil.
Dos soldados brasileiros em missão de paz no Haiti, são 14 mortos e 4 desaparecidos.

Vários países já prometeram enviar ajuda para o Haiti para a manutenção dos sobreviventes e a reconstrução do país. Até o momento já foi levantado um montante de pelo menos US$ 151 milhões pela ajuda internacional, além do envio de toneladas de alimentos, água, medicamentos e envio de pessoal especializado para ajudar nas buscas.

O terremoto que atingiu o Haiti na última terça-feira foi o mais forte na ilha desde 1946, quando o Haiti foi castigado por um tremor de 8,1 graus na escala Richter seguido de um tsunami.

País mais pobre das Américas, o Haiti conta com uma população de aproximadamente 9 milhões de pessoas, e, devido à sua localização geográfica, está entre os países com maior incidência de desse tipo de fenômeno.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Terremotos


No último final de semana, em 3 estados da região Nordeste do Brasil (RN, PB e PE), um pequeno tremor de 3,8 graus na escala Richter causou pânico em pessoas não acostumadas com tal fenômeno. Alguns prédios do Recife chegaram a ser evacuados por precaução devido ao medo de abalos nas estruturas.

Em matéria especial no Diário de Pernambuco sobre o ocorrido, foi publicada uma tabela explicativa com as relações entre os graus medidos pela escala Richter e as conseqüências dos tremores.

Segundo essa tabela, tremores entre 3 e 3,9 graus, como o ocorrido no Nordeste, pode ser sentido por muitas pessoas mas não causam danos materiais.

Continuei a leitura da tabela e cheguei aos tremores maiores, com grande impacto e destruição. A partir de 5 graus, por exemplo, um terremoto já pode abalar estruturas de pequeno porte e derrubar várias casas pequenas.

O problema, porém, começa a se tornar grande a partir dos 6 graus, quando o poder de destruição pode atingir um raio de até 180 Km de distância do epicentro do fenômeno. Nessa medição, um terremoto já tem força suficiente para provocar grandes rachaduras e abalar estruturas de prédios.

O tremor ocorrido na última terça-feira no Haiti atingiu 7 graus. Segundo a mesma tabela, tremores dessa magnitude podem ser sentidos em vários países, provocar centenas de mortes e a derrubada de grandes construções.

O curioso de tudo isso para mim foi, após ter visto a tal tabela ontem à noite, acordar hoje e ver no jornal as manchetes sobre o terremoto no Haiti.

Até o momento não é possível estimar a quantidade de vítimas, mas o que se sabe é que cerca de 3 milhões de pessoas estavam na área mais atingida pelo tremor e os estragos devem ser catastróficos.