terça-feira, 26 de abril de 2011

A parcialidade das opiniões e o caso Requião



Publicado originalmente em Observatório da Imprensa

Existe uma tendência desde o surgimento dos grandes conglomerados de mídia, de acusar a imprensa de parcialidade e manipulação da informação. Durante muito tempo, enquanto veículos unilaterais, onde poucos falavam para muitos, e esses poucos para falar tinham que possuir ou estar dentro de meios técnicos e caros para isso (como emissoras de rádio e TV ou jornais), isso fazia mais sentido. Hoje, com a possibilidade de usar veículos de comunicação para opinar ou narrar determinados assuntos, muitos passaram a poder falar para muitos. O alcance da rede ainda é limitado se comparado a TV, e por isso uso o termo “muitos” ao invés de “todos”, mas ainda assim, o cenário mudou bastante – indo do “poucos para muitos” para o “muitos para muitos”.
Com essa evolução os envolvidos em um fato têm maior possibilidade de dar sua versão sem precisar esperar o famoso “direito de resposta” – nem sempre justo. É nesse cenário que fica claro a imparcialidade (natural, é não manipulação deliberada) da maior parte dos que tem poder de emitir discursos por qualquer meio de comunicação de acordo com seus interesses, preferências e vivências individuais.
Entendo que qualquer discurso é interessado e que falar em objetividade (narrar um fato de forma imparcial) é perigoso, ou no mínimo ingênuo. Na tentativa de trazer aqui uma versão possível sobre o acontecimento de ontem envolvendo o Senador Roberto Requião (PMDB-PR) tentarei mostrar a diferença das narrativas contadas pela mídia e pelo senador. No entanto, não vou cometer a irresponsabilidade de dizer que farei isso sem nenhuma preferência. Sou jornalista e tenho o meu lado, que neste blog, não é com nenhum patrão ou empresa, mas sim com alguns princípios da profissão – em especial o da liberdade.
Não vou me estender contando o fato, mas sim resumir como o contaram. Logo cedo, tive o primeiro contato com o acontecimento ao ver o nome de Requião no TT’s do Twitter. Em seguida, vi a reportagem feita pelo “Bom dia Brasil”, li matéria na versão on-line do Estadão, acompanhei um pouco da repercussão no twitter, em especial os posts do próprio senador Requião e por fim migrei para o site do senador.
O interessante de fazer este percurso é ver como cada um conta a história de acordo com o meio técnico em questão. Os critérios de escolha do que e como falar, são altamente interessados, e isso se justifica por um motivo simples – qualquer espaço na mídia é um espaço de poder, pois, na pior das hipóteses uma pequena parcela dos leitores/ouvintes irão acreditar no que foi dito – independente da veracidade ou da omissão/parcialidade que o individuo teve ao narrar os fatos.
A cada novo veículo, uma nova descoberta. Na Rede Globo, a matéria foi curta. Mostrou o lado do repórter que teve o gravador tomado pelo senador ao fazer uma pergunta que o incomodou, contou que o senador ameaçou bater no repórter e depois mostrou curtas palavras do filho de Requião defendendo o pai do repórter “inconveniente”. No Estadão, uma narrativa mais completa, contando tudo o que foi dito pela Globo e acrescentando um fato importante: Requião postou em seu site a gravação na íntegra, apagou o conteúdo e horas depois mandou seu filho devolver o gravador ao repórter.
No twitter, Requião se vangloriou de sua atitude e, por ter postado o áudio em seu site, ignorou o fato de: 1 – ter tomado a força o gravador de um repórter que tem direito de perguntar o que quiser ao senador já que se trata de pessoa pública, representante e funcionário do povo; 2 – ter apagado conteúdo de reportagem feita pelo jornalista e 3 – ter ameaçado bater no repórter (o que não seria novidade). Após cometer os atos narrados acima ainda postou no twitter a seguinte frase: “Alguns twitters, reflexo da má imprensa, bem que mereceriam bofetada. Sou civilizado. Quero apenas aprovar direito de resposta”.
A repercussão no twitter mostra opiniões diversas sobre o tema, que vão da defesa da liberdade do repórter ao apoio ao senador – um verdadeiro exemplo de homem justo – por ter postado o áudio da entrevista em seu site. As diferentes opiniões e o espaço (maior ou menor) concedido a elas nos meios de comunicação (redes sociais também são meios de comunicação) mostram a parcialidade do discurso, seja de pessoa física ou jurídica, que varia de acordo com preferências subjetivas de cada um e, claro, do local onde a pessoa se informou sobre o assunto.
Os meios de comunicação não são imparciais, e nem as pessoas. Infelizmente isso é algo muito difícil de se cobrar, apesar de necessário em alguns casos. A solução para não cair em armadilhas, é duvidar e procurar sempre outras fontes para uma análise comparativa antes de fazer julgamentos ou tirar conclusões.

Um comentário:

  1. Muito interessante a análise. E, realmente, duvidar de tudo é uma boa pedida!

    Abraço.

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