sábado, 22 de maio de 2010

Jornal Nacional: A ferramenta da Ditadura


“Eram 19h56 quando o locutor Hilton Gomes anunciou: ‘O Jornal Nacional da Rede Globo, um serviço de notícias integrando o Brasil Novo, inaugura-se, nesse momento: imagem e som de todo o país’. O ‘Brasil Novo’ tinha a informar que Costa e Silva apresentara ‘o primeiro sinal da crise circulatória [na] quinta-feira’ da semana anterior. (Foi na quarta.) ‘Sentiu dor de cabeça e tonteira.’ (Perdeu a voz.) ‘Na sexta, chegou ao Rio passando mal.’ (Chegou com um quadro clássico de isquemia cerebral.) ‘Passou bem a noite e está em recuperação.’ (Estava prostrado na cama, tão paralítico e mudo quanto no sábado. Escondia o braço debaixo do travesseiro quando via que iam lhe aplicar mais injeções. Alimentava-se de líquidos e papas)”. GASPARI, Elio, A Ditadura Escancarada, p.105.

No dia primeiro de setembro de 1969 estreava na Rede Globo o Jornal Nacional, primeiro programa a ser transmitido em rede nacional no Brasil. O programa inaugurou um novo estilo de jornalismo na TV brasileira e seu surgimento coincide com o endurecimento do regime militar. Em pouco tempo, o jornalístico se tornou o principal, e às vezes o único, meio de informação dos brasileiros.
Logo em sua edição inicial, a TV Globo, já deu pistas sobre seu poder de distorcer fatos, além de sua aparente combinação com o regime militar.
Quanto à distorção dos fatos, o jornalista Bernardo Kucinski conta que, “a TV Globo vai além da mera distorção consciente dos fatos – ela tenta instituir a história, determinar o destino da nação. Para isso, cria continuamente uma realidade impostada e, em várias ocasiões, assumiu a vanguarda da arte de falsear e até substituir a realidade”.
Já em relação à parceria com o governo, Kucinski ainda completa que, “o Estado [...] conduziu um processo de exclusão das massas e silenciamento das oposições. Deu-se uma total mudança nos mecanismos ideológicos de persuasão, com o recuo dos jornais e a ocupação desse espaço pela Rede Globo de televisão”.
Sobre isso, temos também o depoimento de Inimá Simões que disse que, “coube à TV cumprir um papel encomiástico, louvaminheiro. Como já foi dito, ela foi o meio de comunicação escolhido para louvar as realizações da ditadura militar, do Brasil potência do general Médici, cuja imagem destinada à história (apesar de ter sido o presidente do período mais obscurantista da nossa história) é a do presidente-torcedor, com o radinho de pilha grudado na orelha, acompanhando transmissões esportivas e saudando a seleção tricampeã de futebol na volta do México.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A essência do espetáculo


“O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como arte. A verdade de que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem. Eles se definem a si mesmos como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores gerais suprimem toda dúvida quanto à necessidade social de seus produtos.”

O texto acima foi publicado em 1947 pelos sociólogos Theodor Adorno e Max Horkheimer no livro “Dialética do Esclarecimento”. O cinema, ao qual eles se referiam, é o que hoje provavelmente entendemos como cinema clássico. “Aquilo que era cinema”, alguns mais entendidos na sétima arte devem pensar.

Me sinto obrigado a tocar nesse assunto pois, após três “espetáculos” seguidos a que assisti recentemente, me ficou claro o seguinte: O cinema (comercial) de hoje é espetacular!

E isso não é um elogio. Digo espetacular no sentido apocalíptico que o crítico francês Guy Debord utiliza para falar da nossa sociedade. O cinema produzido hoje para as massas parece que esqueceu que os fatores principais da sétima arte são, nada mais nada menos que: ROTEIRO e INTERPRETAÇÃO! E que me perdoem os fãs de efeitos especiais e histórias mirabolantes, mas ao que me parece, todo esse barulho que o cinema vem fazendo encobre totalmente a falta de personagens bem interpretados.

Semana passada, fui assistir ao filme “Alice no país das Maravilhas”. Muita cor, efeitos, belas filmagens, enfim: baita filme bonitinho, como provavelmente dirão a maior parte das garotas que forem assistir. Uma semana depois vi "Homem de Ferro 2". Confesso que nenhum dos dois fazem o meu tipo, mas enfim, por questões das mais diversas (não faço idéia) vi os dois.

Entre os dois “espetáculos”, fui ao teatro popular do SESI, na Av. Paulista onde vi, maravilhado, o espetáculo (agora sim uso o termo como elogio) “Tempo de Comédia”. Montagem e cenários perfeitos. Interpretações deslumbrantes, história hilária, realista e principalmente construtiva, com conteúdo.

O engraçado é que a história da peça de certa forma constroi sua comédia zombando, não exatamente do cinema a que me refiro, mas da precariedade roteiro X interpretação que parecem estar dando lugar as técnicas espetaculares que (para mim) só fazem barulho mas vendem (o que posso dizer, eu também contribuí...) .
A trama se passa em um futuro não tão distante, onde robôs substituíram atores nas novelas de baixo orçamento. Na peça, a situação parece engraçada e apenas inusitada. Mas o problema é que na vida real, de forma menos caricata, sinto falta dos humanos no cinema (popular), parece que se transformaram em “actóides”.

Fica a dica de Tempos de Comédia, que, apesar de conter o fator humano em seu espetáculo, com ótimo texto e interpretações, é gratuito, enquanto o cinema espetacular... bom ... deixa pra lá.

Serviço: http://www.sesisp.org.br/home/2006/centrocultural/Prog_teatro_tempocomedia.asp