segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O papel das "celebridades" na campanha eleitoral



Originalmente em Observatório da Imprensa


A representação e a função dos “famosos midiáticos” nas campanhas eleitorais, é um velho problema, já longamente discutido, porém pouco conhecido pelos eleitores em geral. Quando votamos em candidatos do poder legislativo (deputados federais, estaduais, senadores e vereadores), apesar de votarmos individualmente em um candidato e não no partido, temos que ter em vista que a eleição é proporcional e que os votos recebidos pelas celebridades (que na maioria das vezes sequer sabem o que faz um deputado por exemplo) são somados e revertem-se para os partidos, que elegem determinado número de candidatos (independente de quantos votos receberam), na proporção dos votos obtidos pelos candidatos populares.

Em 2006, ano da última eleição presidencial escrevi um pequeno texto sobre esse assunto e, ao ver o humorista Tiririca e principalmente a entrevista dada por ele a Folha de SP, corri meus arquivos em busca desse texto e o encontrei! (Segue abaixo). O Tiririca, representa como poucos a figura da celebridade que levanta votos para o partido em questão. Confirmação dessa lógica fica explícita quando Tiririca declarou, em entrevista a FSP, que sua campanha será toda patrocinada pelo partido que o convidou e o rodeou de assessores. Ao votar em candidatos como o Tiririca (que muito provavelmente terá uma votação alta), o problema maior não será ver o “abestado” (forma como o próprio Tiririca se intitula em sua propaganda) no congresso, mas sim imaginar que tipo e quais intenções possuem os outros candidatos que irão ao congresso bancados pela grande votação do humorista. Não é muito difícil imaginar o tipo de político que usa dessa artimanha para chegar ao congresso.

Texto de 2006 escrito com algum (?) fim acadêmico

Reforma Política, um direito do cidadão

“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos”.
Artigo 1º. , Parágrafo Único da Constituição Federal.


Será que algum dos quase 740 mil eleitores do deputado federal eleito Paulo Maluf sabem quem é Marcelo Mariano e Neudo Gomes? E quanto aos 494 mil que elegeram o deputado Clodovil Hernandez pelo PTC? Algum deles conhece a deputada Ângela Portela?
Entre os três nomes desconhecidos citados acima, o laço que os liga é o mesmo. Todos chegaram ao congresso nacional com uma média de menos de 10 mil votos (segundo dados do TSE), carregados pelos astros que os ‘apadrinharam’.

Só para se ter uma idéia, no livro “Por Dentro do Governo Lula”, (lançado em 2005), a cientista política Lucia Hippolito afirma que nas eleições de 2002 mais de 93% dos 513 deputados federais foram eleitos com votos de legenda. Apenas 33 deputados se elegeram com votos próprios.
Professora de Sociologia e Psicologia da Educação, a autora do livro Policidadania - Política e Cidadania, Lucrecia Anchieschi, acredita no projeto de lei que prevê listas fechadas de candidatos para as próximas eleições como solução. “Os eleitores não votariam mais individualmente em seus candidatos a vereador, deputado estadual e federal, mas nos partidos, que concorreriam nas eleições com listas de candidatos pré-selecionados em convenções. Por exemplo: se um partido tiver direito a oito cadeiras, entrarão os oito primeiros nomes da lista.”
Hoje a eleição já é proporcional. A diferença é que os eleitores votam em candidatos individualmente. Esses votos, somados, revertem-se para os partidos, e cada um elege determinado número de candidatos, na proporção dos votos obtidos.

Fidelidade partidária e financiamento das campanhas eleitorais

Atualmente todo parlamentar é dono do próprio mandato. Elege-se por uma bancada e a troca por outra quando bem entender. A ideologia a história e a tradição de cada grupo partidário passa a ser secundário, e o espaço que o partido possui na mídia se torna fundamental. Segundo Lucrecia o ideal é que o candidato tenha a obrigatoriedade de ficar pelo menos 2 anos filiado.“O partido tem que ter autonomia sobre o parlamentar, pois os mandatos legislativos de qualquer natureza pertencem a ele, desta maneira o candidato que mudar de bancada, deveria perder o respectivo mandato.” Outro problema lembrado por Lucrecia é o financiamento das campanhas eleitorais. Segundo a socióloga, o financiamento deve ser feito inteiro com dinheiro público. “Não sabemos o que pessoa física e jurídica com interesses políticos diversos, pode querer ao financiar uma campanha política.” O projeto de lei que regulamentará o financiamento também está incluso na pauta da Reforma Política que deve ser votada até maio, segundo o Presidente da Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia.



terça-feira, 24 de agosto de 2010

A pseudo Inclusão Digital e o Debate On Line

A Internet ocupa cada vez mais espaço na vida dos chamados “incluídos digitais”. Definir o que é inclusão digital e quantos são os incluídos é tarefa das mais complicadas senão impossível. No artigo “O caráter pseudo da inclusão digital” a pesquisadora Denise Correa Araújo afirma que, “seria difícil dizer até que ponto é possível afirmar que há uma inclusão digital, se considerarmos que muitos usuários da rede a usam somente para seus e-mails. Seria isso a inclusão digital?” Somado a isso, podemos imaginar também as crianças que frequentam demasiadamente lan houses como se fossem cassinos, apenas para jogos. A inclusão digital ainda me parece distorcida. Enquanto ferramenta, a Internet, para atingir o objetivo real da inclusão precisa ser usada para facilitar o dia a dia, evitar uma ida ao banco ou a banca de jornais por exemplo ou o uso do telefone além do acesso fácil a notícias mundiais e a praticamente qualquer conteúdo de interesse do usuário.

Debate on line
Semana passada, pude assistir ao primeiro debate on-line no Brasil, feito pela Folha/Uol e transmitido ao vivo por vários sites. Pelo Twitter, o debate era assistido e comentado simultaneamente gerando uma interatividade inédita.
Ao meu ver o debate propiciou ao público os principais pilares do que a Internet pode gerar de positivo e em especial um dado negativo.

Interação e convergência

Houve uma real e saudável interação e convergência dos meios de comunicação.
Qualquer indivíduo em qualquer lugar do mundo, munido de um computador conectado a Internet, pôde em tempo real: assistir ao debate, comentar o conteúdo, ver comentários de outros internautas e ler opiniões de jornalistas e especialistas que logo postaram textos na Internet (seja em portais, sites de jornais ou blogs). Alguns internautas ainda tiveram a oportunidade de fazer perguntas (previamente gravadas) aos candidatos.
Essa mudança do eixo central da comunicação (TV / Impresso) e sua descentralização para a Internet é super positiva no sentido de dar voz aos comunicados que ganham o direito de ser também e por que não, comunicadores, na medida em que de pronto (assim como faço neste texto) publicam suas opiniões.
O problema, e por isso deixei claro haver ainda um ponto negativo, é que a grande mídia e, consequentemente, a lógica capitalista é quem organiza e apresenta esse show. No momento de selecionar as perguntas dos internautas para os candidatos me pareceu (assim como a capa da revista Época sobre o passado de Dilma) que a parcialidade do meio foi embora. Em um debate onde o intuito era expor propostas, o Folha / Uol, selecionou e fez uma pergunta a candidata Dilma no mínimo constrangedora. Não era mentira, a pergunta foi baseada em fatos, porém, que nada tinham a ver com propostas. A pergunta, em linhas gerais, foi: “Como você se sente sendo o resto do PT, aquilo que sobrou e que apenas por isso foi escolhida para ser candidata?”
Não quero defender esse ou aquele candidato. Mas se é para bater vamos bater, se é para ouvir vamos ouvir. Acho que perguntas como essa não acrescentam nada a exposição de propostas. Mas se era para partir para esse lado, por que não perguntaram ao Serra, para equilibrar o desconforto, algo como: Como você se sente tendo rachado seu partido e criado inimizades com os principais ícones do PSDB? ou ainda: O que você tem a dizer sobre candidatos que assumem compromisso com um cargo público por 4 anos e largam para concorrer a um cargo melhor?

Internet, interatividade e convergência são pontos positivos, mas falta transparência. O povo não é passivo a tudo e, com um bom uso da Internet pode começar a enxergar as distorções. Mas esse ainda é um longo caminho que começa por melhores políticas de educação, a base do esclarecimento.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Começa a jornada do mestrado

Na teoria: primeiro dia como aluno da Cásper, primeira reunião oficial com o orientador, primeiro salgado na cantina, primeiro xerox, primeira aula, primeiro contato com os colegas de classe...

Na prática é o começo de uma jornada a ser cumprida em dois (curtos) anos. Muita (muita mesmo!) leitura, seminários, redações, conversas, debates e também a solidão teórica que dividirei hora com o papel hora com o meu dell.

Além da titulação, que é objetivo óbvio de todos, há algo mais. Há um papel humano a ser desenvolvido. Não quero dizer com isso que há um objetivo de se mudar algo na humanidade. Há sim, antes de mais nada, o objetivo de mudar o pensamento do pesquisador em questão, eu.

Aliado a curiosidade e a objetivos pessoais e profissionais, o segredo será entender o objetivo geral dessa nova tarefa que me surge como essencial, a pesquisa. O que é fazer pesquisa? Pior, o que é fazer pesquisa em comunicação? Qual o papel disso na sociedade? É fácil justificar a função de uma pesquisa quando se está, por exemplo, pesquisando a cura de alguma doença ou a forma mais eficiente de se produzir algo em determinado setor visando maiores lucros e sustentabilidade.

Mas e em comunicação?

Diferente de uma matéria jornalística, onde praticamente qualquer tema bem escrito e permeado por bons personagens pode virar uma boa história, na pesquisa em comunicação a pergunta é: como transformar um bom tema, recheado de teorias e conhecimentos empíricos em um bom projeto que gere algum conhecimento científico?

A pergunta para mim ainda está sem resposta e é o principal objetivo da jornada do mestrado que acaba de começar.

Existe uma comunidade no orkut chamada: “Mestrado gera traumas”. Pode ser. Depende da forma como você o encara. Se for algo prazeroso e feito por motivações pessoais dignas acredito que gere no máximo fadiga, não traumas. Acredito que gere também muito conhecimento, boas amizades e também uma boa profissão.

Avante!