quinta-feira, 13 de maio de 2010

A essência do espetáculo


“O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como arte. A verdade de que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem. Eles se definem a si mesmos como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores gerais suprimem toda dúvida quanto à necessidade social de seus produtos.”

O texto acima foi publicado em 1947 pelos sociólogos Theodor Adorno e Max Horkheimer no livro “Dialética do Esclarecimento”. O cinema, ao qual eles se referiam, é o que hoje provavelmente entendemos como cinema clássico. “Aquilo que era cinema”, alguns mais entendidos na sétima arte devem pensar.

Me sinto obrigado a tocar nesse assunto pois, após três “espetáculos” seguidos a que assisti recentemente, me ficou claro o seguinte: O cinema (comercial) de hoje é espetacular!

E isso não é um elogio. Digo espetacular no sentido apocalíptico que o crítico francês Guy Debord utiliza para falar da nossa sociedade. O cinema produzido hoje para as massas parece que esqueceu que os fatores principais da sétima arte são, nada mais nada menos que: ROTEIRO e INTERPRETAÇÃO! E que me perdoem os fãs de efeitos especiais e histórias mirabolantes, mas ao que me parece, todo esse barulho que o cinema vem fazendo encobre totalmente a falta de personagens bem interpretados.

Semana passada, fui assistir ao filme “Alice no país das Maravilhas”. Muita cor, efeitos, belas filmagens, enfim: baita filme bonitinho, como provavelmente dirão a maior parte das garotas que forem assistir. Uma semana depois vi "Homem de Ferro 2". Confesso que nenhum dos dois fazem o meu tipo, mas enfim, por questões das mais diversas (não faço idéia) vi os dois.

Entre os dois “espetáculos”, fui ao teatro popular do SESI, na Av. Paulista onde vi, maravilhado, o espetáculo (agora sim uso o termo como elogio) “Tempo de Comédia”. Montagem e cenários perfeitos. Interpretações deslumbrantes, história hilária, realista e principalmente construtiva, com conteúdo.

O engraçado é que a história da peça de certa forma constroi sua comédia zombando, não exatamente do cinema a que me refiro, mas da precariedade roteiro X interpretação que parecem estar dando lugar as técnicas espetaculares que (para mim) só fazem barulho mas vendem (o que posso dizer, eu também contribuí...) .
A trama se passa em um futuro não tão distante, onde robôs substituíram atores nas novelas de baixo orçamento. Na peça, a situação parece engraçada e apenas inusitada. Mas o problema é que na vida real, de forma menos caricata, sinto falta dos humanos no cinema (popular), parece que se transformaram em “actóides”.

Fica a dica de Tempos de Comédia, que, apesar de conter o fator humano em seu espetáculo, com ótimo texto e interpretações, é gratuito, enquanto o cinema espetacular... bom ... deixa pra lá.

Serviço: http://www.sesisp.org.br/home/2006/centrocultural/Prog_teatro_tempocomedia.asp

3 comentários:

  1. Oi Rafael, muito interessante sua reflexão sobre a peça. Realmente este é um texto que se desdobra a cada leitura e a encenação da Eliana faz a cama para isto vir à tona. E fico muito feliz que você tenha gostado do trabalho dos atores, nos esforçamos bastante!! Que bom!! Um grande abraço, Julia

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  2. Oi Rafael, será que você me permite reproduzir um trecho do seu texto no material de divulgação do espetáculo? Se puder, me escreva: juliacarrera@gmail.com Obrigada, um abraço, Julia

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