segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A divisão apocalíptica entre o bem e o mal e o poder questionável da grande mídia



Nesses tempos de eleição, e principalmente nos tempos da bipolaridade partidária brasileira entre PT e PSDB, a construção de algo que seria o “bem total” contra outro algo representando o “mal total” se faz clara em qualquer discussão um pouco mais acirrada sobre política. A bem da verdade, vemos hoje claramente essa distinção ser feita pela grande mídia. Os veículos de maior circulação – O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e Veja, defendem, declaradamente ou implicitamente o partido (teoricamente) mais conservador, representado hoje por José Serra. Do outro lado, veículos de menor circulação, como Carta Capital e Caros Amigos, apóiam Dilma e a continuidade do governo PT.

Movidos, seja por interesses ideológicos sejam econômicos, ambos os lados, não sempre, mas em muitos casos, pintam o cenário apocalíptico a qual me refiro, onde a eleição, na verdade, é uma guerra entre o bem e o mal. A impressão que fica é que, quem vencer irá implantar uma ditadura e terá poderes absolutos de implantar suas vontades – as mais obscuras possíveis como os “boatos” têm espalhado por ai, tais como liberar aborto, drogas, armas, homossexualismo, fechar igrejas, proibir símbolos religiosos, privatizar até o “Corcovado” e por aí vai.
Independentemente do gosto partidário, fico pensando, será que as coisas são assim tão simples como o cenário mostra? Será que, a essa altura, um debate maniqueísta é o mais adequado (até nos meios acadêmicos)?
Sobre isso, abro algumas questões para serem pensadas - criticadas ou apoiadas até por que são questões contraditórias, apenas alguns parâmetros:

1 - A mídia impressa ser altamente partidária, chega a ser normal, faz parte do jogo, basta vermos a história da imprensa e entendermos que os jornais e revistas são empresas privadas e independentes. O problema é oferecerem a pluralidade em seus slogans e venderem na realidade panfletos. Ao saírem de cima do muro e assumirem declaradamente suas posições – caso do Estadão e da Carta Capital - não estão sendo desonestos, apenas partidários – e cumprindo o que afirmam.
2 – Por outro lado, a imprensa, em sua essência deveria refletir a opinião pública. O jornalismo ideal – se é que se pode pensar em um jornalismo ideal – seria, antes de qualquer coisa, um serviço de utilidade pública, cliente da população e não das empresas privadas. Vendo por esse lado, qual a normalidade em um país onde o governo tem 86% de aprovação ser posto na imprensa, muitas vezes, como algo negativo? E a opinião pública dos 86%, não conta? Não importa mais refletir a opinião pública? Ou se trata agora simplesmente de tentar moldar a opinião pública aos interesses privados?
3 – E quanto aos meios de radiodifusão? Esses sim, apesar de empresas privadas, são concessões públicas. Dependem do Estado para funcionar, tanto no que se diz respeito a autorização legal, quanto estrutural de transmissão nacional. Não deveriam esses, pelo menos, cumprir a legislação (que diz que esses meios deve(ria)m atender a prioridades de programas educacionais e culturais) e servir de meios de educação e informação para a população e não aos interesses privados?
4 – Longe de querer negar o poder da grande imprensa, gostaria apenas de lembrar que, até o momento, apesar da grande mídia apoiar os candidatos do PSDB, estamos caminhando (ao que tudo indica) para o terceiro mandato do PT. Agora fica a pergunta: A imprensa tem realmente esse poder todo? Por que não consegue eleger seu candidato? Ou será que consegue?

Além da comodidade de dar a grande imprensa um poder descomunal e culpá-la por tudo (coisa que em alguns momentos da história foram possíveis, mas não sempre), é importante ressaltar que ainda temos diversas outras fontes de influências e mediações, como família, amigos, igrejas, partidos, dentre outros, que também influenciam a população e a ajuda a seguir alguns princípios, por vezes diferentes dos propostos pela imprensa.
Mas é claro que deveríamos pensar na necessidade de ensinar nas escolas, formas de receber criticamente esses meios de comunicação, para que as informações que recebemos, muitas vezes desencontradas, sejam recebidas de forma critica e proveitosa. Concluo esse artigo, defendendo que o caminho para esse debate é a educação, a única forma de alcançar o esclarecimento, se é que alguns governantes têm interesse nesse tal “esclarecimento” da população. Enquanto isso, seguem os debates maniqueístas entre o bem e o mal.

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