Nas escolas de jornalismo, costumamos ouvir que "o jornalista é o historiador do presente", estamos o tempo todo escrevendo a história e relatando fatos que um dia possivelmente constarão nos livros didáticos e serão estudados por nossos filhos. Pois bem, isso é verdade. E o tempo passa muito mais rápido do que imaginamos e fatos que ainda estão frescos, já ilustram livros didáticos sem um distanciamento temporal histórico que acredito necessário para uma melhor compreensão do tema.
Exemplo disso é a reportagem do jornal Folha de S.Paulo de hoje: "Livros aprovados pelo MEC criticam FHC e elogiam Lula".
Em primeiro lugar, é interessante ver como fatos vividos por qualquer cidadão brasileiro com pouco mais de 20 anos já constam no currículo dos alunos do ensino fundamental. Em segundo lugar, é uma boa oportunidade de se analisar como a história é feita e sua relação, muito forte nos dias atuais com o jornalismo.
O historiador Keith Jenkins, no livro "A história repensada", faz uma distinção entre o passado (aquilo que já aconteceu) e a história (aquilo que foi escrito/registrado sobre o passado). Sobre essa escrita/registro, Jenkins defende que a ação dos historiadores não é algo natural, mas sim um constructo linguístico pautado em escolhas e interpretações subjetivas. À essa explicação podemos incluir o ofício do jornalista sem maiores problemas, afinal, ao narrar um fato, o repórter também fará uma leitura dos acontecimentos de acordo com escolhas e fatores subjetivos.
A questão é que, nesse caso, esse "passado" registrado pelos jornalistas e agora interpretado por uma historiadora e aprovado pelo MEC, foi vivido pela maior parte dos hoje "universitários", irmãos, primos e até pais dos alunos que receberão essas informações. É aí, com a ausência desse distanciamento histórico, que fica mais claro os fatores de escolhas e interpretações feitas por jornalistas e historiadores.
Por ter vivido no Brasil durante os dois governos em questão, a maior parte das pessoas terá, a partir de suas experiências, critérios para julgar corretas ou não as informações contidas nos livros didáticos. Ao contrário, quando se trata de acontecimentos ocorridos há mais tempo, essa possibilidade de formação de opinião fica mais complicada e há uma tendência maior a entender a história como algo exato.
Assim como as narrativas da mídia, a história também deve ser entendida como algo interpretativo, até porque os registros jornalísticos são uma das principais fontes dos historiadores.
Bom, é difícil julgar a (im)parcialidade da historiadora responsável pelos livros didáticos, mas esse é um risco que se corre ao deixar que alguém precise de aprovação do MEC, durante a gestão do governo PT, para aprovar um texto que contenha análises sobre os governos PT e PSDB.
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