terça-feira, 2 de março de 2010

Padrões de manipulação na grande imprensa


Um ensaio de Perseu Abramo


1. O legado ético de Perseu Abramo e de Aloysio Biondi - por José Arbex Jr

Na apresentação, Arbex começa exaltando a mídia brasileira no sentido de sua qualidade técnica. A Rede Globo, por exemplo, pode ser equiparada com empresas de comunicação do mundo inteiro sem nada deixar a desejar. Motivo de orgulho? Não. “Azar o nosso”, diz Arbex. O poder de manipulação dessas empresas se torna gigante. Elas passam a ter em mãos a possibilidade de dar ao público apenas aquilo que lhe convêm. A guerra do Golfo, por exemplo, foi uma guerra sem mortes nem horrores na visão do povo que não tinha ou não queria ter acesso a outras fontes de informação que não os telejornais globais. Arbex expõe Abramo e Biondi como dois grandes mestres que mostraram como a imprensa constrói os fatos em base a manipulações e passa a ser “uma coluna de sustentação ao poder”. (O 4º poder)
A tecnologia traz a imprensa um novo padrão de manipulação não analisado por Abramo. A amnésia criada pela velocidade da informação.
“Se a imprensa constrói verdades e realidades irreais para manipular a população, podemos construir então uma grande enciclopédia das manipulações adotando ensinamentos de Abramo e Biondi”, finaliza Arbex.


2. A atualidade dos estudos do jornalista e professor Perseu Abramo - por Hamilton Octavio Souza

Hamilton inicia seu prefácio com breves dados acadêmicos profissionais de Abramo.
Algumas das pesquisas na área de manipulação na mídia e comparações entre a imprensa e os partidos políticos feitas por Abramo ficaram de lição para o próprio Hamilton, que foi aluno do professor Perseu Abramo.
Abramo trabalhou 15 anos como professor do curso de jornalismo da PUC-SP, de 1981 a 1996, ano de sua morte. Lecionou também na UnB e na UFBA. No campo prático, Abramo trabalhou nas redações de O Estado de S.Paulo, da Folha de S.Paulo e no Jornal dos Trabalhadores, do Partido dos Trabalhadores – PT.
Na época em que trabalhava na Folha, participou de greves que levaram a sua demissão do veículo e acompanhou criticamente o nascimento e implantação do Projeto Folha que trouxe a redação manuais e decretos.
Fala-se também de objetividade, falsa objetividade e das reais motivações que levam a imprensa a manipular a informação. Para Abramo a motivação das empresas em manipular, foge do campo econômico para reinar no campo da obtenção de poder, na lógica política.
Nisso a imprensa passaria então a adotar um discurso positivo oficial, como feito no governo FHC. Ou seja, ao invés da reportagem, a informação passa a ser as declarações do poder. A esse padrão de manipulação Abramo dá o nome de oficialismo, que mais tarde se transformaria em autoritarismo.
Esses modelos estudados por Abramo nos ajudam a entender hoje como jornalistas (egressos das universidades e conhecedores dessa técnicas) manipulam a informação por meio de ocultação, fragmentação ou inversão dos fatos. Com isso, aprendemos também a ler essas informações tentando fugir ao máximo da manipulação exercida pela imprensa.
Hamilton encerra seu texto falando da importância desse texto de Abramo, publicado junto com o texto de Aloysio Biondi para a formação de uma visão critica dos esquemas de manipulação, e para estimular a transformação e a formulação de um novo jornalismo.



3. Significado político da manipulação – por Perseu Abramo

“Uma das principais características do jornalismo no Brasil, hoje, praticado pela grande imprensa, é a manipulação da informação”.
Assim começa o texto de Perseu Abramo. Para ele, essa manipulação cria uma realidade irreal, ou seja, faz o público acreditar em uma realidade que não é real. Essa irrealidade passada como real, é na verdade a realidade que mais interessa a empresa de comunicação para a obtenção do poder segundo articulações políticas, como já comenta Hamilton Octavio Souza em seu texto.
Dito isso, Perseu Abramo passa a listar os padrões de manipulação por ele estudado.

1. Padrão de ocultação – É o padrão que se refere a ausência e à presença dos fatos reais na produção da imprensa .
2. Padrão de fragmentação – Eliminados os fatos definidos como não-jornalísticos, o resto é apresentado pela imprensa ao leitor não como uma realidade, mas como um real completamente despedaçado e estilhaçado.
3. Padrão de inversão – Fragmentado o fato em aspectos particulares, todos descontextualizados, entra o padrão de inversão que reorganiza as partes com troca de lugares, de importância. A substituição de uma pelas outras passa a criar uma realidade artificial.
4. Padrão de indução – Submetido, ora mais, ora menos, mas sistemática e constantemente, aos demais padrões de manipulação, o leitor é induzido a ver o mundo não como ele é, mas sim como querem que ele o veja.




“Padrões de Manipulação na grande imprensa”
Um ensaio inédito de
Perseu Abramo
63 páginas.
Editora Fundação Perseu Abramo.

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